A viagem de trem II
Em pleno sábado, dia lindo e quente, sou acordada pelo despertador as cinco da matina para trabalhar... Isso mesmo! Trabalhar!
Fazer o quê, não é?
Após o expediente, sigo para a estação e impacientemente aguardo o trem que nunca chega...
Creio que esqueceram que as pessoas utilizam este meio de transporte nos finais de semana.
Cadê os trens, meu Deus?
O calor estava demais e o suor já começava a escorrer!
Mas tudo bem, hoje é sábado e nada me aborrece.
Finalmente o meu sorriso se abre, o trem estava chegando!
Era o "quentão", porém, nem liguei!
Enquanto ele se aproximava, podia ver cabeças, braços, camisetas e bandeiras agitando-se nas janelas, cantorias e gritos histéricos...
Comecei a imaginar o pior!
O que estaria acontecendo lá dentro?
Quando o ‘bendito’ parou na estação, fiquei tão perplexa ante a situação, que não sabia se entrava ou ficava onde estava...
Nem deu tempo para refletir, pois fui empurrada e quando dei por mim, já estava dentro do vagão!
A cena era inédita na minha vida (e olha que já vive um pouquinho, hein!).
O vagão, ou melhor, todos os vagões, estavam totalmente lotados de torcedores vestindo preto e branco. Acho que todos os vascaínos do Rio de Janeiro resolveram pegar aquele trem!
Ao meu lado, uma figura exótica, exibia um enorme chapéu (enorme mesmo!), estilo Napoleão Bonaparte, camiseta do Vasco, bermuda preta, tênis e meias brancas esticadas, impecavelmente, até a canela. Se não fosse cômico, seria bizarro!
Sem ter como evitar, comecei a rir...
Gente, como alguém naquele calor infernal, consegue se vestir daquele jeito e ainda carregar um enorme tapete com uma caravela pintada? Pelo amor de Deus, me digam, como?
Famílias inteiras, vestidas a caráter, resolveram sair de suas casas para prestigiar o time do coração e estimulá-lo a vitória!
Ainda estava digerindo as informações quando dei conta que estava no meio de uma empolgada torcida organizada vascaína!
Logo eu! Flamenguista convicta.
Que situação!
Para completar o clima natalino (essa era a impressão que tínhamos...), eles estouravam fogos pelas janelas em total delírio! Parecia virada de ano em Copacabana!
A cada estação, mais torcedores!
O calor estava insuportável!
Se colocassem um frango temperado no meio do vagão, quando chegassem ao Maracanã (destino daquela gente...), teriam um ‘galeto’ assado! Juro!
Os ambulantes riam à toa, afinal, estavam vendendo tudo!
A água era disputada a tapas por mulheres e crianças!
Ali, o deserto do Saara perderia feio!
O amor ao time era lindo, mas o cheirinho que exalava quando levantavam o braço para vibrar, era algo que deixava qualquer cristão zonzo!
Ainda bem que quando era criança participava de campeonatos de prender a respiração... Sempre ganhava!
Hoje estes treinamentos estão salvando a minha vida!
O negócio era respirar apenas quando a porta abria... Ufa!
Uma coisa não se pode negar: Quanta disposição!
Com certeza, muitos ali estão desempregados, doentes, solitários, com conflitos familiares e pessoais, porém, naquele instante, nada disso tem importância.
Importante é saber que existe um grito de emoção preso na garganta de cada uma daquelas pessoas e que mesmo sem se conhecer, tem em comum o amor pelo seu time.
Um amor capaz de superar dificuldades, derrotas, rebaixamentos e apenas existir pela alegria de viver o sonho de ser vascaíno.
Aquilo contagiava e em meus devaneios, já estava quase trocando de clube...
Ainda bem que a minha estação chegou e continuo flamenguista!
Viva a emoção!
Viva a alegria!