Quero viver como meus ídolos
Meu amigo Jose Luiz Aymay escreveu que prefere morrer como seus ídolos do Direito. Eu prefiro viver como meus ídolos. A morte de todos os que ele listou (Morrison, Hendrix, Janis, Kurt, todos com 27 anos) reflete exatamente o que é o indelével, inexorável, imutável e ininteligível destino. Se existe uma divindade onipotente, onipresente e onisciente, tudo que por ela é feito, é previamente pensado e tem um encaixe perfeito na vida daqueles diretamente afetados. É o famoso ditado, o que é pra ser, é pra ser. Nesse sentido, analisando-se por uma ótica antireligiosa fervorosa, ninguém pode condenar ninguém, e o Direito, ente sagrado que regula as relações interpessoais, não existiria, o que reinaria seria o caos, porque o livre arbítrio seria um mero desconhecido da humanidade e seria Deus, que através de sua vontade e por assim ter decidido o destino das pessoas, teria atirado Isabella do 6º andar do edifício London.
Porém, senhores, o assunto em pauta não é a respeito da religiosidade e dogmas cristãos ou ateus, e sim, sobre a vida e morte de certas pessoas. Como disse, a hora que as coisas devem acontecer, elas acontecem. Kurt Cobain enfiou alguns projéteis num tiro de 12 que pintou o teto de sua casa com seu cérebro após ter atingido o ápice com o Nirvana. Hendrix havia fechado Woodstock, e a figura que irá ficar dele sempre será a da guitarra queimando no palco naquela fazenda nas proximidades de Nova York. A voz de Janis, ainda que absolutamente incrível, estava perdendo um pouco da potência, e sua apresentação em Newport, festival de música folk, fez com que ela atingisse esse patamar de ícone. Todos, eles morreram após terem atingido algo, terem fechado um ciclo.
Para citar alguns outros exemplos, John Bonham, baterista do Led Zeppelin, após ter a maior vendagem de discos da história do rock’n’roll, tomou todas e morreu engasgado com o vômito na noite em que soube da notícia. Keith Moon, baterista do The Who, após ser idolatrado como o Mago, morreu, e pra sempre vai ficar a áurea de alguém alucinado, mas com extrema qualidade no som que fazia.
Agora, vamos ao outro lado da questão. Keith Richards é uma lenda pela sua resistência. Após quase morrer afogado na gravação de um clipe dos Stones onde eles tocam em uma tenda que é invadida por espuma, o homem, que pela quantidade de substâncias pesadas ingeridas, que fariam com que Chernobyl parecesse um aperitivo para uma terça feira chuvosa, ainda permanece em pé, firme e forte, como guitarrista líder.
Bukowsky, que passou a vida dividida entre a sua máquina de escrever, mulheres, vinho, drogas e mais mulheres e mais vinhos e mais drogas,foi ter seu fim no longíquo ano de 1994, já ultrapassado seus 70 e poucos anos.
John Lennon, que segundo o que prega meu querido amigo José Aymay, teria tudo para ter morrido quando encontrava-se no auge do vício em ácido lisérgico ou heroína, a saber, durante Sgt. Peppers ou durante as viagens com a Plastic Ono Band, foi covardemente assassinado quando encontrava a felicidade como pai de família, limpo, sem vícios, sem beberragens, onde tudo que ele desejava era voltar pra casa pra poder ficar com a sua criança. O estilo rock’n’roll não o matou. O que o matou foi o destino. Quando não haveria mais o que criar, o que ser, o destino foi lá e o imortalizou, fazendo com que até hoje aquele sujeito de óculos com aros redondos e com ar de idiota seja venerado como se fosse a própria reencarnação de um Deus há muito esquecido para alguns, que pregava a paz e o amor como sendo primordiais.
O que tudo isso quer dizer, é que eu não me importo em morrer como meus ídolos, mas sim que eu quero viver como eles, não tomando chá de cogumelos e subindo em telhados de hotéis e gritando “eu sou um anjo dourado” como Jimmy Page, mas construindo coisas as quais realmente possam se orgulhar, e possam ser lembradas posteriormente. Eu não preciso fazer isso pro mundo, pode ser que essas pessoas que sintam orgulho por minhas realizações sejam a minha família, o que já seria de extrema felicidade. Porém o que eu não quero é viver a vida como uma pessoa que não fez diferença, que se resguardou no seu mundinho para poder chegar saudável e inteiro nos seus 90 anos, mas que ao olhar pra trás, viu que morreu aos 14 quando deixou de viver pra atingir esse objetivo.