NO DIA INTERNACIONAL DA MULHER...
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
NO DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Nelson Marzullo Tangerini
Maria Lúcia Zanelli é uma mulher inteligente e independente. Creio que a conheço desde 1975, quando, na Seção de Anúncios da extinta Revista POP, da Editora Abril, pedia correspondência com pessoas de minha área e meu nome e endereço saíram publicados.
Estudávamos jornalismo, e nossa amizade, então, estreitou-se para sempre.
Feminista de quatro costados, guerreira, a excelente jornalista paulistana foi vítima de discriminação sexual, este ano, 2010, Século XXI, no Dia Internacional da Mulher.
Indignada, Lúcia, que tantas vezes chamei de Malu Mulher, pela internet enviou a jornalistas a sua insatisfação
Ela foi cobrir a coletiva da abertura da exposição do filho do Kadafi: O deserto não é silente...
A exposição foi inaugurada no Museu Afro, no Ibirapuera, e, segundo a jornalista, era fantástica e valia a pena ser vista. Surgiu, porém, uma situação inusitada. “Como todo bom muçulmano”, dizia La Zanelli, “ele trata as mulheres como cidadãs de segunda categoria. Não gostou de dar entrevista para as jornalistas presentes, evitou o contato mais próximo conosco e ainda, de quebra, não aceitou um copo d´água oferecido pela assessora - porque ela estava com os braços de fora. Eu pensei que ele ia se levantar e acabar com a entrevista.” Lúcia disse nunca ter visto tanta falta de educação. Até porque o africano não estava na Líbia e deveria respeitar os costumes do Brasil. A jornalista disse, ainda, que os trogloditas dos seguranças só faltavam passar em cima das jornalistas e da assessora pelo simples fato de serem mulheres. E Lúcia finaliza seu e-mail dizendo: “Isso, senhores, aconteceu em pleno dia 8 de março” [de 2010] “ – Dia Internacional da Mulher... Cadê nossos direitos? Precisamos rasgar as burcas.”
Seu e-mail viajou pela internet e casou polêmica.
Um biólogo, sem conhecer Maria Lúcia Zanelli – professora de História - , que já morou no Iraque, quando obrigatoriamente teve de usar o véu muçulmano, saiu em defesa do filho e herdeiro do ditador líbio e chamou a jornalista de imbecil e mal informada. Ignorando que o livro “A origem das espécies”, de Charles Darwin, é rigorosamente proibido em países muçulmanos, convidou-a a estudar Antropologia, para ter uma noção de cultura.
Ora, senhores, a Antropologia protege os machistas? Machismo, afinal, é cultura? Pelo que sei é ignorância e intolerância sexual. E inveja, também.
Sobre a obrigação do uso dos véus a mulheres cristãs em países muçulmanos, devo lhes dizer que concordo com que a França, país de Simone de Beauvoir, Marguerite Yourcenar, Marguerite Duras e Brigitte Bardot, mulheres livres e independentes, os proíba em seu território. Através da coluna de cartas da Folha de S. Paulo, expressei, certa vez, minha firme opinião a respeito do assunto. E fui rotulado de islamofóbico. Os muçulmanos são também preconceituosos, e poderíamos chamá-los de “cristofóbicos”, uma vez que perseguem cristãos. Em alguns países, os seguidores de Cristo, chamados jocosamente de “Cruzados”, ou “infiéis”, podem ser presos, torturados e até condenados à morte. Pelo menos é o que leio no site da ong cristã Portas Abertas.
Em relação à África, alguns africanistas tendenciosos sustentam a tese de que o islamismo é a religião da África, e que a religião islâmica trouxe mais progresso para o continente do que o cristianismo. Como explicar, então, casamentos forçados, o casamento de um homem com mais de 4 mulheres, a perseguição a homossexuais [condenados à morte] e clitóris amputados?
Todo historiador honesto sabe que a mais primitiva religião da África é o animismo e que o islamismo chegou ao continente pelo Egito, quando os árabes invadiram terras africanas e impuseram a religião à força. Muitos pescoços sentiram o peso frio da espada.
V. S. Neipaul, em seus livros, nos mostra o quanto os árabes são etnocêntricos, imperialistas e colonialistas. Tanto quanto portugueses, espanhóis, ingleses, franceses e russos. Neipaul, que nasceu em Trinidad e Tobago e hoje mora na Inglaterra, é filho de pais indianos. O escritor nos mostra como quatro países não-árabes, Irã [persa], Paquistão [pashtum], Malásia e Indonésia [malaios], tiveram de abandonar suas religiões e suas culturas, para se arabeizarem: tornaram-se muçulmanos.
A discussão é longa e perigosa. É muito mais fácil criticar o cristianismo. Sairemos à rua sem sermos importunados. Criticar o Islã é assinar sentença de morte. Aqueles que ousam criticar a religião criada pelo profeta são covardemente perseguidos e assassinados.
Creio, porém, que a mulher fará a grande revolução dentro do islamismo. As mulheres islâmicas, que conhecem o Corão melhor que os homens, vêm se tornando grandes escritoras [ainda que vivam fora de seus países], e vêm pedindo para que os homens sejam mais generosos, humanos, gentis e sensíveis.
Que os homens sejam mais sensíveis e flexíveis, a ponto de perceber que a mulher é um ser humano, e não um animal, que pode ser vendido ou trocado por outro animal.
Nelson Marzullo Tangerini, 55 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073, Nestor Tangerini, e da ABI, Associação Brasileira de Imprensa.
nmtangerini@gmail.com, nmtangerini@yahoo.com.br
http://narzullo-tangerini.blogspot.com/
e
http://cristinadeandradefotografa.blogspot.com/
Esta crônica é dedicada a uma mulher inteligente e independente: Cristina de Andrade, professora de História, fotógrafa e minha esposa.