O QUE AS FOTOGRAFIAS NÃO REVELAM

Foto, o que é uma foto? A foto é só um momento. Por isso mesmo se chama instantâneo. Uma foto é só um instante, num instantâneo, pintado, clonado, imortalizado, estagnado, maquiado, posado e mil vezes ensaiado. Portanto cuidado com as fotos. Elas podem ser montagens, imaginadas, inventadas, recriadas, de olhos coloridos, de peles acetinadas, de sorrisos sensuais, de vagas impressões, de lábios sedutores, de promessas mil.

Não se iludam com as fotos. Podem ser uma farsa. Uma farsa irremediável, irreversível, inexorável, de tramas tristes, de sensórias ilusões, de finais infelizes, de mentiras torpes, de jóias falsas, de desencantos mil. Também não fique feliz em demasia se lhe chamarem “fotogênico”. Isso é apenas uma estratégia para lhe dizerem que você não é lá essas coisas, mas fica bem na foto. Qual a vantagem? A não ser que “fotogênico” significasse que você pelo menos é um grande gênio. No mais, ao vivo e a cores, você continua o mesmo, exatamente como é aos olhos dos pobres mortais.

Uma foto revelada, não revela nem desvela ninguém. Melhor não acreditar em seus olhos de promessas. Alguns dizem ver sentimentos nas fotos. Sabem até nomeá-los. Eu ainda não aprendi essa arte. Sou péssima para aparências! Prefiro esperar um pouco mais. Já existe até uma nova teoria dizendo que a primeira impressão não é mais a que fica (porque antes era!). Olha aí, que perigo! A foto só revela a imagem fria do instante. Por isso mesmo sai de uma objetiva. E objetiva como é, avisa que não tem tempo a perder com bobagens...

Portanto quem quiser me conhecer não peça meu retrato. Quem quiser me lembrar não guarde minha foto. Eu jamais a daria sob essas condições. Que me conheçam pelo que sou, pelo que penso. Que me lembrem pelo que representei, pelo que falei, pelo que deixei. No entanto continuo como me vejo. Nem bonita, nem feia, nem triste nem alegre, nem doce, nem amarga, nem boa nem cruel, nem plena, nem vazia. Muito além de um papel, mais que uma fotografia.

E por falar em fotos, quando será que vão inventar uma maquininha para revelar almas? Desde já, eu peço: não batizem a invenção de “objetiva”. As almas não aceitam isso! Elas querem ser reveladas com muito amor. E o amor não aceita ser confundido com objetividade. Ele nunca mancha, não desbota, nem amarela com o tempo, tampouco não se rasga ao primeiro descuido, como acontece com os retratos... A alma, ainda irrevelável, aos olhos de uma lente objetiva, antecipadamente agradece...

MARINA ALVES
Enviado por MARINA ALVES em 29/03/2010
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