MINHA JANELA PANORÂMICA
“Os Elevadores Panorâmicos valorizam as paisagens externas e a decoração dos ambientes internos, se integrando ao ambiente, além de reduzir a sensação de desconforto da cabine enclausurada”.
Meu desejo: queria uma janela panorâmica na minha sala. Por que, não? Esta cena sempre morou em mim. Ficou gravada de um romance que li. Não tem isso? A gente lê, imagina, a cena impressiona, comove, toca por qualquer motivo que só a sensibilidade conhece. E nunca mais é esquecida...
Pois bem, quando construí minha casa, cuidei que tivesse meu jeito. Houve controvérsias. “Eu devia pensar melhor, uma casa assim não é comercial”. E quem disse que eu queria uma casa comercial? Queria uma casa para morar, acordar nela todos os dias, gostar de estar nela, olhar para ela, andar por nela...
Qual é a graça em se ter uma casa para os outros olharem? Qual o sentido de se ter coisas que você não usa, não quer, não aproveita para nada? Só porque os padrões da moderna arquitetura ditam, e todo mundo copia? Quando mudei minha vida, mudei a mim mesma, mudei minha casa. E ela ficou do meu jeito: simples. Nada comercial. Mas, clara, arejada, aconchegante. Também não tem em seu entorno barreiras que a cerque. Isso traz liberdade, completa um círculo sem começo nem fim. Algo mais ou menos parecido com a vida...
E na minha casinha, a janela panorâmica! Saída de um livro, parecida com a descrição deste elevador do começo do texto. Lá está, qual vitrine natural, valorizando a paisagem do jardinzinho, integrando a natureza ao meu ambiente, diminuindo a sensação de estar enclausurada. Deus que me livre das clausuras! A sala vê o mundo lá fora, do jeito que eu queria. Corrida a cortina, a vidraça pinta um quadro ao natural, nas cores mais originais que a natureza me empresta todos os dias. É só abrir e tudo fica livre, o ar entra inteiro com todos os seus odores de mato, de insetos e de frescura.
Hoje, pela minha janela, além do sol, entraram também os ramos verdes de densa folhagem. Grata surpresa! Surpreendi o voo repentino de um passarinho que fugiu assustado. Nem precisava conferir. Afastados os ramos, flagrei o ninho com três ovinhos. São comuns por ali. Imagine ter uma morada de passarinhos ao lado da janela, ao alcance da mão? Para mim, um privilégio...
Os olhos são as janelas da alma? Acredito. Então porque não abrir à alma, todos os dias, a visão da beleza? Por que não lhe dispensar a cada manhã, uma bela e poética paisagem? Se hoje os espaços são cada vez menores e nem sempre se pode contar com jardinzinhos, pássaros e ninhos, (e milhões de vezes nem com uma casa, por modesta que seja) então deixemos que a alma veja, pelo menos, a beleza guardada nos olhos. Como aquela que um dia li num livro e passou a morar dentro de mim. A beleza é sempre uma janela aberta, o panorama a gente faz...