A HISTÓRIA PODERIA TER SIDO DIFERENTE...

Li uma afirmação, esses dias, que me chamou a atenção e me encheu de dúvidas. Será? Dizia assim: "Não há nas Américas dois países tão parecidos como Brasil e EUA". Será? Vejamos:

_ geograficamente são imensos;

_ os colonizadores eram europeus, portanto brancos;

_ ambos eram habitados por indígenas, que praticamente foram dizimados pelos exploradores;

_ ambos investiram na agricultura;

_ a mão-de-obra escrava foi amplamente utilizada.

Para mim, aí terminam as semelhanças.

No início da colonização, o Brasil e outros países da América Latina estavam à frente da América Inglesa. O Brasil já desenvolvia o comércio do pau-brasil, mais tarde o açúcar, enquanto nos EUA era um fracasso atrás do outro. Foi após as guerras pela independência que o jogo se inverteu. Os EUA foram o primeiro país a se tornar independente e, a partir daí, sua economia disparou.

Embora as semelhanças poderiam sugerir um desenvolvimento igual, existem deiferenças entre EUA e Brasil que podem ter sido decisivas para o desenvolvimento de um e o atraso do outro. E isto fica evidente no estereótipo dos colonizadores. Na América do Norte chegaram ingleses que eram banidos da sociedade, geralmente por crimes políticos e até criminosos comuns. Vieram para ficar, porque vinham como exilados. Então não vieram sozinhos. Trouxeram a família a fim de criar uma nova vida, na nova terra. Os ingleses expatriados queriam fundar uma pátria na América. Para eles, a mulher era companheira e um braço para o trabalho. Eram, portanto, colonizadores.

Os portugueses chegaram sozinhos, como exploradores, em busca de riquezas e com a intenção de voltar a sua pátria. Eram, portanto, conquistadores. E a conquista não se restringiu ao aspecto geográfico e de riquezas naturais somente. Ficaram impressionados com a beleza das índias e, mais tarde, das negras. Para eles, a mulher era presa fácil e até os padres católicos caiam pelo encanto das negras. Longe da família, esses conquistadores se tornaram mulherengos e cobiçosos. Não só das mulheres, como também das riquezas que podiam retirar das florestas, como o pau-brasil.

Mas, isso apenas não justifica esse fosso que existe entre Brasil e EUA. Não vou discorrer sobre a evolução política e social decorrente da estruturação e da herança cultural, pois ficaria muito chato e pesado. Só vou colocar que, segundo economistas, sociólogos e historiadores, existe um consenso: sem Educação não há avanço. Em 1850, os EUA já possuiam a população mais educada do mundo. No Brasil, a Educação foi precária desde o início, influência da atrasada família real portuguesa. Os colonizadores ingleses traziam as idéias religiosas de Calvino, que prioriza o trabalho e o lucro. Os portugueses, cheios de dogmas da Igreja Católica, preferiram "domesticar" os índios a fazer do solo brasileiro uma nova morada. Viam o Brasil apenas como um cenário exuberante e cheio de riquezas, pronto para ser explorado e para seduzir as índias. Enquanto os ingleses trabalhavam pela nova pátria, os portugueses só queriam levar as riquezas da nova terra para a Europa. Esse ponto foi crucial para o desenvolvimento de um e o atraso do outro.

Outro ponto que deixa dúvidas sobre o atraso brasileiro é a transferência da família real. É certo que D.João VI fez grandes avanços no território; entre outras coisas abriu os portos às nações amigas, terminando com o comércio bilateral Brasil-Portugal. Mas sua demora na nova Colônia criou uma sociedade fútil, constituída pela Corte Real e isso influenciou na formação de seu filho, Pedro de Alcântara, de tal forma que ainda hoje perduram histórias sobre suas aventuras amorosas e os inúmeros filhos ilegítimos que teria tido.

A independência norte-americana se fez em cima de luta armada e os colonizadores defenderam até a morte a posse de seu território. No Brasil não houve luta. E nem o famoso "Independência ou Morte", proferido por D.Pedro I, às margens do Ipiranga, teve o significado de luta. Para se tornar independente, o Brasil contou com o apoio da Inglaterra, interessada nos produtos brasileiros, desestruturando o comércio português. Só que esse apoio não foi gratuíto (alguém faz alguma coisa de graça?). Pelo jeito, a Lei de Gerson já era usada antes do Gerson nascer! O Brasil pagou a Portugal por sua independência, com empréstimo dos bancos ingleses. Aí começava nossa famosa dívida externa... Assim os EUA, fortalecidos com a independência, dedicaram-se ao trabalho árduo e profícuo. Enquanto isso, o Brasil iniciava sua liberdade atrelado à dívida com a Inglaterra.

É óbvio que não se explicam em poucas linhas, mais de 500 anos de História. Isso foi só um aperitivo para lembrarmos que, se hoje, os EUA são uma potência mundial, muito se deve a sua colonização. E se o Brasil está anos atrás, isso se deve, em parte, à dívida com a Inglaterra, pois o Brasil foi o único país da América que pagou para se tornar independente e ainda continuou com a Monarquia após sua emancipação. Isso, aliado as etnias que o formaram, gerou um povo indolente, dançante e brincalhão. É por isso que até hoje rimos e fazemos piadas com as falcatruas e desgraças provocadas por nossos políticos...

Isso é seriedade? Tenho minhas dúvidas...

Giustina
Enviado por Giustina em 26/03/2010
Reeditado em 14/02/2014
Código do texto: T2161372
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.