EU E ELA NA BIBLIOTECA
Tudo aconteceu Na Unisc, Universidade de Santa Cruz do Sul.
Ai Deus, quando lembro parece que foi ontem...pensando bem, foi ontem, mas é como se não fosse pois cada minuto longe dela dura uma eternidade e perto... duas eternidades, pelo fel do veneno na lembrança da vergonha.
Enfim, o vil fato aconteceu. Estava eu dedilhando capas de livros com os olhos ou lendo-as com as mãos à procura de um bom título, quando eis que um suave perfume ( como um direto do Maguila bem no queixo sem protetor ) percorre o corredor e implora minha atenção, era a flor mais linda do quintal da disciplina de Teoria da Comunicação, com certeza era amor à 11° vista, mas isso é secundário no fato.
Ela chegou bem perto, parou ao meu lado e sorrindo me cumprimentou:
- Oi, tudo bom?! Procurando um livro?!
Bem, eu poderia ser irônico e responder que não estava procurando um livro e sim esperando um ônibus ou outra bobagem parecida, seria engraçado, no entanto trágico. Que tal então ser simples e prático respondendo que sim duas vezes - sim, sim - sendo assim objetivo, porém frio. Então balancei a cabeça positivamente com um sorriso e dei uma piscadinha, perfeito!
Perfeito se eu estivesse ficado calado e não me pronunciado, mas eu me manifestei, por Deus...eu me manifestei!
- Bem, na verdade alguns desses livros eu já li ( mentiroso safado ), então vai ser difícil escolher algum outro livro dessa prateleira, he he ( risadinha desnecessária ).
- Ah é?!
Nossa mãe, aquele - Ah é?! -foi muito desafiador, e eu como macho alfa daquele corredor deveria tirar agora qualquer livro da estante e dizer - Por exemplo, este...- comentando-o ou somente o título, mas teria que conhecer pelo menos o autor.
Então meti a mão na estante peguei o livro e falei:
- Por exemplo, este...São Bernardo!
Sorte, São Bernardo eu conhecia como outras obras de Graciliano Ramos.
- Você conhece, já leu?
- Sim, como outras obras do Graciliano!
Então gastei a palavra, lhe contei tudo sobre o livro, como foi escrito na primeira pessoa, a divisão de trabalho entre os personagens, a vida de Paulo Honório e a miséria em sua infância, o cenário de fazenda assim como também citei outros livros de Graciliano como Vidas Secas.
- Ahh...bom, então tá, agente se vê na aula, até!
Foi assim mesmo - Ahh...bom, então tá - triste, cansada após um bocejo. Azar, tinha que ter pego São Bernardo?! vai saber que efeito terá sobre nossa relação. Mas estou decidido de hoje em diante, não vou mudar de tática, mas sim de atitude!
Hoje voltei à biblioteca, ela não apareceu, mas eu estava lá, em outra estante de outro corredor, pronto para pegar Crepúsculo. Confesso que não gostei muito, mas vai que ela goste, tem gosto prá tudo nesse mundo - Até Graciliano Ramos! - ela me diria após outro bocejo.