EVOLUÇÃO?

Os hábitos mudaram assim como mudaram as expectativas, as profissões. Há cinquenta anos era comum verem-se jovens levantarem-se em coletivos e oferecer seus lugares aos idosos, senhoras ou pessoas com crianças. Que pediam pacotes ou pastas (aquelas que mais tarde seriam as famosas 007) das pessoas que trafegavam em pé, e que gentilmente haviam recusado os lugares que lhes haviam sido oferecidos. Também era comum haver silêncio durante as aulas e os alunos ficarem de pé quando alguém entrava na sala. Senhor ou senhora vinham atrelados aos nomes dos mais velhos, dos religiosos e de tantos quanto exerciam alguma atividade, inclusive os empregados domésticos. As piadas tinham classificação e as moças só podiam ouvir as “de salão”. As pessoas buscavam um curso técnico para conclusão do ensino médio a fim de garantir uma profissão e Pedagógico era praticamente obrigatório para as moças. Além das profissões tradicionais (Advocacia, Medicina, Engenharia) eram escolhidos outros cursos ligados à Filosofia e as chamadas Ciências Humanas. Mas a coisa mudou a partir da desagregação familiar. O individualismo tomou conta das relações interpessoais. As palavras de calão passaram a fazer parte do vocabulário da maioria e em muitos casos são usados como sinônimos quando a palavra adequada não vem. Mas não vem por causa da pobreza vocabular porque agora, os alunos não são mais obrigados a produzir textos escritos ou ler em voz alta nas salas de aula, onde os professores são chamados pelo primeiro nome (às vezes apelidos) e desacompanhados de Professor “o mais nobre dos títulos que alguém pode ter” (conforme preconiza Prof. Ariano Suassuna). A evolução do conhecimento ensejou o surgimento de profissões até então inimagináveis. A carta, os cartões postais e o telegrama foram substituídos pelo Email. Até o telefone convencional, aquele residencial ou de empresas, está rareando diante da avalanche de celulares em mãos cada vez mais novas. Sendo portados por crianças que ainda nem trocaram os dentes, que nunca tiveram (nem terão) oportunidade de brincar de ser criança em quintais, em ruas sem calçamento, de ter uma turma, de ter amigos de infância cujos pais são amigos dos seus pais. É a geração do biscoito recheado em vez de fruta madura tirada do pé num quintal vizinho, que jamais disputará uma partida de futebol com bola de meia em campo enlameado cuja sujeira pregada nas pernas iam diretamente para os azulejos do banheiro para desespero das mães. Crianças que não sabem o que é jardim florido, horta ou galinheiro. Que têm horror ao mais tradicional dos pratos brasileiros (feijão, arroz, salada e bife) que só sabem comer batata frita vendidas em tubos de papelão com nomes escritos em inglês, macarrão (preferencialmente sem molho ou parmesão ralado), nugget’s de frango empanado e farofa comprada em supermercado com alto teor de gordura e sal, tudo isso acompanhado de refrigerante, muito refrigerante geladíssimo porque suco de fruta é “eca!” – “muito ruim!” As brincadeiras no parque foram substituídas pela praça de alimentação dos Shoppings Center, onde bombas calóricas (os Mac alguma coisa) vão lhes provocar aumento do colesterol HDL e a fixação dos ateromas nas coronárias pois o único exercício praticado, alem da mastigação, é o movimento dos dedos em infindáveis partidas de vídeo games (level 1, 2, 3...) onde mocinhos (meio máquina, meio gente) enfrentam com tiros e murros os alienígenas que querem dominar o mundo o qual é salvo pelo herói “o cavaleiro solitário” que passa a mensagem de que a vida é uma guerra, uma briga de rua que deve ser resolvida na bala ou nos tabefes. Diante dessa realidade onde a mídia privilegia os corpos sarados e as peles de pêssego, o adolescente obeso com o rosto cheio de espinhas, devido à super carga de chocolate e seus derivados, sem o apoio da família inexistente, só tem um caminho. O craque. Mais barato que a cocaína, menos chamativo que a maconha, mais desastroso para todos nós.