MALANDRO E MANÉ

O Tomás chegou aqui dia desses, vindo do colégio (pra variar, folga da babá) e ficaria até a noitinha, quando os pais, retornando da labuta hospitalar diária, o buscariam. Nem preciso dizer, foi aquela alegria imensa, tanto deste escriba como da minha mulher, a Dona Mari, sua avó.

O sapeca lourinho dos cabelos ondulados, sempre sorridente, já entrou no apartamento solfejando um samba popular em voga, criação de um sambista novo, Diogo Nogueira, filho do saudoso João Nogueira (“Nó na Madeira” e outras pérolas da MPB):-

“- Malandro é malandro, mané é mané ... É, pois é ...”

Fiquei intrigado, pois estava acostumado com as cantigas de roda tradicionais (Atirei o pau no gato, Na fonte do tororó, O cravo brigou com a rosa, etc.), cuja cantoria sua avó sempre fazia pra ele desde menorzinho ainda, principalmente na hora de dormir. E agora ele me aparece, não mais que de repente, cantando samba e gingando que nem malandro de gafieira:-

“- Malandro é malandro, mané é mané ... É, pois é ...”

“- Tomás, me explica uma coisa:- quem foi que lhe ensinou essa música? Donde você aprendeu? Fala pro vovô, fala?! ...”

O lourinho era safo, não respondia, só cantarolava, percebendo a nossa curiosidade e o impacto que a exibição gratuita provocou em nós. E caprichava ainda mais nos passinhos miúdos que dava, tal e qual um mestre-sala diante da sua porta-bandeira.

Nos divertimos muito e rimos bastante, mas sua avó ponderou que o melhor seria tirar o uniforme do colégio e tomar aquele banho, preparando-se para o almoço que já estava pronto. Tomás foi se despindo, tirou o par de tênis, os meiões, a blusa, a calça do uniforme, jogou a cueca pro alto e danou a saracotear no meio do quarto, peladinho da silva, cantando mais alto ainda:-

“- Malando é malandro, mané é mané ... É, pois é ...”

Depois de muita conversa ele, afinal, partiu pro chuveiro e deixou-se lavar pela Vovó Mari, saindo de lá limpinho e cheiroso como um príncipe. Aí, sim, fomos almoçar (todos nós com uma fome canina) e depois o repouso, ocasião em que o garotinho curte os desenhos e atrações do “Discovery Kids”.

À noite, chegam seus pais, Daniel e Karina, com muita saudade do filhote após um dia inteirinho longe daquela fofura:-

“- E aí, Tomás, o que você aprendeu de novo na escola hoje? ...”, quiseram saber ambos ao mesmo tempo. E o lourinho, erguendo-se faceiro, gingando e pisando miudinho:-

“- Malandro é malandro, mané é mané ... É, pois é ...”

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 25/03/10

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 25/03/2010
Reeditado em 26/03/2010
Código do texto: T2158665
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