O MUNDO DE CADA UM
Do telhado da minha vida, avisto o mundo ao redor, ao longe. Ora olho para cima e entendo que o céu e a redoma que se forma ao redor do nosso planeta é o meu mundo. Ora olho para o longe - distante - e concluo que lá onde a vista alcança e se perde, na imensidão das tantas coisas, esse sim é o meu mundo. Às vezes concluo que olhando para baixo, no terreiro da minha casa, em cujo telhado me vejo e de onde projeto meu pensar, ali, especificamente ali, daquele tamanhinho ali, é o mundo, o mundo meu.
Outro dia, aqui sentado, deixei o pensamento vagar e se projetar no futuro, naquele futuro inventado nas viagens da reflexão e achei que aquelas coisas todas que imaginei, aquilo sim era o meu mundo. E já houve dias em que aqui sentado, sobre esse telhado do meu mundo, acabei olhando para dentro de mim e vi que esse era efetivamente meu mundo.
E assim vou pensando, nessa vã e inútil filosofia, sobre o mundo que é meu e o mundo de cada um. Nunca cheguei a nenhuma conclusão, que não seja que cada um olha o mundo do seu jeito e o ajeita segundo seu pensar, segundo o momento e até mesmo seu estado de espírito. Penso que se a cada dia vimos o mundo diferente, de ângulos diferentes ou simplesmente diferentes do mesmo ângulo e isto dentro da nossa singularidade, da nossa intimidade, da nossa pequenez, imagine então a visão tão diferente que cada um tem do mundo e sempre nessa metamorfose aos olhos de cada um de nós.
Certamente haverá quem pense que essa mutação na visão do mundo ou simplesmente da sua visão para com ele, seja tão simplesmente inconsistência de uma personalidade inconstante, fruto talvez de questões não resolvidas, inconformismos e/ou falta de coerência. Haverá quem o diga que isso é acarretado pela fragilidade de uma personalidade imatura e coisas assim do gênero. Mas não é assim.
Todos nós passamos por tais mutações; todos nós humanos pensantes, conscientes dos seus desejos e de todos os demais sentimentos que fazem de nós criaturas inteligentes, vamos, dia-a-dia, situação a situação, olhando o mundo e as coisas diferentes.
A própria evolução cronológica, a evolução da idade, o amadurecimento, vai transformando nossa visão das coisas e do mundo. Na medida em que vamos evoluindo em termos culturais, na medida em que vamos ampliando e aprimorando nosso conhecimento, passamos a ter idéias diferentes sobre quase todas as coisas. E o que é o mundo que não “todas as coisas”?
Então, volto a olhar o mundo daqui do telhado do meu mundo e hoje o vejo tão longe, bem lá onde o céu se encontra e se funde com os montes distantes. Hoje o mundo é grande, vasto e não consigo abraçá-lo. Hoje só o contemplo e me contento em apreciá-lo.