Tempo cru
É difícil tentar escrever quando o pensamento parece estar lotado de uma coisa só. Só se pensa nela, só se fala dela, só se lembra dela. Você foi embora numa sexta feira, me deu um beijo e partiu. Fiquei desesperada sem saber o que fazer com sábados e domingos que viriam vazios pra me incomodar. Mas segui, obediente aos ditames que a vida nos dá: seguir, sempre, sem parar.
Acho que as primeiras horas – ou primeiros dias tiveram uma natureza incomum de aceleração e movimento. Foram dinâmicos, lotados de músicas e pessoas – conhecidas ou não, de telefonemas e roupas que há muito não se usava. Porque não chorava, questionava a saudade. E o amor. Todo o argamasso dramático era tão brando, tão sorridente. Então passaram dias sem que eu percebesse a gente, nós dois. E, como bem previsto, a frieza da distância provocou-nos efeitos lógicos, permitiu a separação. Não conto mais os dias desde que você se foi, não espero o telefone tocar e o seu nome aparecer, e ficou tudo assim, bem guardado e calado na memória do coração.
Mas, depois desse tempo todo, percebi que acordo todo dia pensando em você. E finalmente descobri que o sentia era mesmo amor.