AS DUAS ALINES E A DIFERENÇA ENTRE A REALIDADE E A NOVELA
Visitei a minha amiga Aline esses dias. Sim, vocês a conhecem, ela é aquela moça do sorriso do tamanho do mundo, e humor proporcional, que ficou tetraplégica após uma cirurgia complicada, mas cuja vontade de viver supera, ano após ano, as previsões médicas, que inicialmente apontavam que a menina não passaria de uma semana. Visitá-la é sempre um grande prazer: conversamos sobre tudo, rimos bastante; e ela sempre me surpreende com a sua alegria, bloqueando sempre qualquer sombra de pena que ameaçar fugir do meu peito ao vê-la ainda sem movimentos.
- E aí, Aline, tem acompanhado a nova novela? - perguntei me referindo a novela da Globo " Viver a Vida", que conta a história da personagem Luciana, interpretada por sua xará Aline Moraes, que após uma acidente se torna tetraplégica.
- Ah, Frank! - responde ela, o sorriso se desfaz e no lugar, surge uma face séria e reflexiva - É conto de fadaS, né? - e ela continua - A discussão é válida, volta e meia, algumas situações interessantes são mostradas, mas a realidade que vemos na novela não se aplica aos milhares de tetraplégicos que não possuem todo aquele suporte financeiro da personagem da novela. Na vida real, não contamos com uma equipe médica nos tratando todo o tempo, não temos toda aquela tecnologia a nossa disposição. Algumas pessoas sonham com uma Ferrari, eu sonho com aquela cama eletrônica que a personagem possui na novela.
É claro que novela é novela - ela diz - e ninguém, com um mínimo de bom senso espera que a ficção mostre como as coisas realmente são de verdade, escaras e fraldas não são bons atrativos de merchadising; mas se as coisas fossem mostradas com um pouco mais de verossimilhança, milhares de brasileiros saberiam, ao menos, o tamanho da fila por um atendimento na AACD*.
Nota do autor:
AACD é uma Associação de Assistência à Criança Deficiente sem fins lucrativos, que trabalha há 59 anos pelo bem-estar de pessoas portadoras de deficiência física.