Canto para minha vida

E cada minuto, cada segundo, cada momento. Tudo pode mudar. Tenho medo, sinto, sofro, vejo. Vejo coisas a cada segundo, coisas que daqui a pouco não me lembrarei de visto. Aquela mulher que esbarrei no ônibus e lhe pedi desculpas, já nem lembro mais do seu rosto. Aquele rapaz que eu olhei hoje durante alguns minutos e achei lindo, nem me lembro do olhar que me conquistou.

E aquele café que eu não tomei? Aquele bom dia que minha mãe me disse e eu não respondi porque estava com sono? Aquele telefonema que não atendi pois já estava saindo de casa. O quão minha vida poderia ter mudado se eu tivesse atendido? E se fosse alguém com quem eu queria falar? E se fosse alguma notícia importante? Tanto faz, eu não atendi.

E aquele senhor que eu dei uma moeda essa manhã na rua? Será que ele realmente precisava? Não seria melhor eu ter comprado um pão, um leite, algo que lhe passasse a fome? E se ele comprar pinga? Enfim, eu fiz o achei que tinha de fazer.

E aquele dia que eu fiz outro caminho? É engraçado como às vezes pequenas mudanças fazem diferença. Ver outras ruas, outras lojas, outra igreja em outra praça.

E aqueles 10 minutos que eu sentei e fiquei olhando aquele dia? Aquele movimento, as pessoas, o quão me envolvi com aquelas pessoas, cada uma delas que passaram na minha frente com pressa, provavelmente nem me viram. Quantas daquelas pessoas podem um dia vir a fazer parte da minha vida? Quantas delas nunca mais passarão por mim? Quantas passarão várias vezes e nunca vão se lembrar quem eu sou?

Quantos dias vão se passar até que eu encontre o amor da minha vida? Aquele com que eu passarei os meus melhores momentos, terei os meus filhos e envelhecerei junto? E se ele passar por mim e eu não perceber? E se ele nem sequer passar por mim? Quanto tempo vai durar o nosso primeiro beijo? Será que a mãe dele vai gostar de mim?

E meu futuro? O quanto terei de estudar pra conseguir ser alguém reconhecido? Será que depois que eu morrer vão se lembrar de mim? Será que eu serei alguém além dessas linhas que escrevo? Será que isso escrevo será lido e interpretado da mesma maneira que eu penso? Será que vão pensar diferente?

Quantas viagens eu vou fazer? Que lugares do mundo pisarei? Onde vou conhecer? Terei fotos ou somente as minhas lembranças? Trarei alguma bugiganga ou voltarei com o mesmo que fui?

E as músicas que eu já ouvi, aquelas com que eu me identificam serão as mesmas daqui a 10 anos? Se não forem, quais músicas serão? Será que ainda farão sentido as que eu ouvia quando criança e eu simplismente sentirei saudade?

E aqueles amores infantis por quem eu um dia me enchi de lágrimas. Será que ainda lembrarei os seus nomes? Será que meu primeiro dia de aula no colégio novo ainda será parte das minhas melhores lembranças? Será que ficarei velha o bastante para nem me lembrar das minhas lembranças? Será que a vida vai me levar moça, será que eu vou viver o para sempre? E o para sempre, será que vai acabar?

Será que farei algo suficientemente relevante para que meu nome não seja esquecido? Será que um dia entendo o sentido dessa vida?