DONA SAUDADE

Naquela tarde Dona Saudade estava triste. Muito mais do que já era. Sentia-se sufocar. Também pudera! Depois de tantos dias entre quatro paredes, não era pra menos, estava um trapo! Então resolveu sair. Precisava tomar um ar, aliviar a angústia. Foi ao armário. Pôs o vestido roxo, seu traje oficial. Olhou-se no espelho. Ui, como estava pálida! Um pouco de lápis nos olhos profundos para disfarçar as sombras. Nos lábios, um leve “gloss”, que também ficava feio aparecer em público toda desmanchada.

Aonde ir? Dona Saudade não sabia. Estava muito sem direção. Andou a esmo. Parou num pequeno parque completamente deserto. Perfeito! Aquele lugar era a sua cara! Ficou ali pensando pensamento de saudade que é assim: vai, volta, divaga, devaneia, imagina, sonha, pede, exige, desanima, fica bravo... Também fala sozinho. Pergunta a si tudo que tem vontade. Depois, ele mesmo se responde. Conversa mais doida! Ainda bem que ninguém escuta, senão iam sair dizendo que Dona Saudade tinha enlouquecido... De saudade? Só podia ser. E até que ia ser engraçado... Se não fosse triste.

Por fim, ela chorou pra desabafar. Tirou do bolso seu lencinho de bolinhas e enxugou uma lágrima furtiva. Ai, borrou toda a maquiagem! Mas quem nunca chorou de saudade? Metade das lágrimas do mundo é por causa de saudade, não sabiam? É... ela é uma chorona inveterada! Chora pela falta, pela ausência, pelo vazio, pelo fim, pela distância, pela solidão. E o quê que isso tem de mais? Nada! Chorar não é vergonha nenhuma! Pior é gente que até morre! Vai definhando, definhando até sucumbir por completo.

Ao fim da tarde, Dona Saudade retornou para casa sabendo de uma coisa: vai ter que fazer tratamento urgente pra curar seu saudosismo, antes que morra... De saudade? E do que mais seria? Ela só não sabe o que fazer para se curar... Será que o Doutor Tempo dá conta do seu caso?

MARINA ALVES
Enviado por MARINA ALVES em 23/03/2010
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