Branqueamento Total (BVIW)
Abri os olhos e lá estava ele. Tal como o havia deixado na véspera, em cima da banqueta, um lindo vestido vermelho de decote em U generoso. E logo o meu olhar se focou detectando uma pequena mas inequívoca mancha imediatamente abaixo daquele ponto onde os dois seios confluem formando um arredondado V.
Mas que nódoa indecorosa seria aquela? Chocolate? Vodka? Tomate? Scotch? Manteiga não seria certamente e o whisky não manchava assim...
Pensei concentradamente. Fiz mais força. Nada. Era como se uma nuvem negra e espessa tivesse vindo de noite tapar os olhos ao pensamento. O meu belo e delicado vestido de noite, cingido ao corpo, enxovalhado por uma suja mácula, de origem estranha e indeterminada.
Todo o efeito há-de ter a sua causa. Logo, explicação plausível teria de existir para a inestética medalha. Tal como para a intrigante amnésia.
Mas... e se a falha na memória fosse de origem benigna? Um presente dos céus para evitar desgostos amargos? Uma sugestão para que agisse no tecido contaminado como algum anjo da guarda houvera feito na minha matéria cinzenta durante o sono reparador?
Levantei-me serena e determinadamente e tratei de encontrar o detergente neutro para roupa delicada. Apliquei no vestígio suspeito aguardando uns minutos. A peça foi à máquina de lavar e esperei que esta agisse como máquina do tempo. Voltando atrás um dia e deixasse o meu vestido, a minha cabeça, e a minha paz de espírito imaculadas.
Há coisas que é melhor não saber.
Abri os olhos e lá estava ele. Tal como o havia deixado na véspera, em cima da banqueta, um lindo vestido vermelho de decote em U generoso. E logo o meu olhar se focou detectando uma pequena mas inequívoca mancha imediatamente abaixo daquele ponto onde os dois seios confluem formando um arredondado V.
Mas que nódoa indecorosa seria aquela? Chocolate? Vodka? Tomate? Scotch? Manteiga não seria certamente e o whisky não manchava assim...
Pensei concentradamente. Fiz mais força. Nada. Era como se uma nuvem negra e espessa tivesse vindo de noite tapar os olhos ao pensamento. O meu belo e delicado vestido de noite, cingido ao corpo, enxovalhado por uma suja mácula, de origem estranha e indeterminada.
Todo o efeito há-de ter a sua causa. Logo, explicação plausível teria de existir para a inestética medalha. Tal como para a intrigante amnésia.
Mas... e se a falha na memória fosse de origem benigna? Um presente dos céus para evitar desgostos amargos? Uma sugestão para que agisse no tecido contaminado como algum anjo da guarda houvera feito na minha matéria cinzenta durante o sono reparador?
Levantei-me serena e determinadamente e tratei de encontrar o detergente neutro para roupa delicada. Apliquei no vestígio suspeito aguardando uns minutos. A peça foi à máquina de lavar e esperei que esta agisse como máquina do tempo. Voltando atrás um dia e deixasse o meu vestido, a minha cabeça, e a minha paz de espírito imaculadas.
Há coisas que é melhor não saber.