FANTASMAS DA QUARESMA
FANTASMAS DA QUARESMA
Estamos na quaresma, período de recolhimento e meditação, que reporta aos sofrimentos de Jesus, quando da doutrinação dos povos antigos, ou seja, o direcionamento a ser tomado pelo ser humano para ir de encontro às verdades de Deus. E é exatamente na quaresma – tempo de recolhimento e de meditação – repetimos, que os menos avisados, incentivados, certamente, por certas seitas religiosas, mais criam fantasias, as mais ridículas, em torno desses dias místicos que antecedem a morte do Cristo.
Falamos dessas fantasias na crônica de dias passados, sob o título “Crendices e Simpatias”, onde nos demoramos um pouco sobre o assunto. O povo brasileiro é, além de supersticioso, ingênuo nos assuntos divinos. Por isso torna-se dócil para ser manejado pelas “autoridades” que se dizem conhecedoras dos assuntos religiosos e, quem sabe, intérpretes dos “mistérios” que, segundo eles, acontecem diariamente no espaço livre entre o céu e a terra.
Poeticamente os numes do belo dizem que o céu é o teto do mundo. Mas essa afirmação é mera expressão poética. Nada tem de real, porquanto, o que denominamos céu, é apenas a camada da atmosfera que, de extensa e compacta, se nos representa azul. É, na realidade, o espaço infinito, livre de obstáculos (planetas e astros), não vistos a olho nu e durante o dia, onde o Criador plantou seus outros mundos iguais ou maiores do que o nosso diminuto Planeta Terra. Tenho a impressão que esses “Ministros de Deus” põem muito peso na frase de Shakespeare: “Há mais mistérios entre o Céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia”. Os dizeres, a título de propaganda, num dos veículos audiovisuais brasileiros, – “Você acredita em Deus? Então você acredita em milagres!” – nada mais faz que induzir o povo simples a perseguir o caminho dos fantasmas.
Enquanto assistia a um dos jornais desta noite (20) deparei com um quadro, no mínimo, curioso. Tratava dos Fantasmas da Quaresma, vistos em solo do glorioso Estado mineiro. Nunca entendi de fantasmas, (mesmo porque os considero meros produtos da imaginação), muito menos se eles têm época para se apresentarem ao seu público predileto: o ser humano. O relato de pessoas residentes nas cidades históricas de Minas Gerais (o noticiário do momento referia-se à cidade de Ouro Preto), dá conta de que no período da quaresma são frequentes as aparições de “mulas sem cabeça”; de um padre a cavalo à procura da “chave sagrada”; a “mulher do cemitério” e outras aparições fantasmagóricas, que os mineiros daquelas paragens, juram de pés juntos, serem testemunhas oculares de tais fenômenos.
Como já nos referimos noutra ocasião, a fé cega nos cânones e crenças com fundamento na interpretação errônea da Bíblia Sagrada pelas seitas religiosas, sejam elas quais forem, contanto que cristãs, dão sua contribuição decisiva para que essas “visões” pareçam verossímeis. Sem luz própria, as mentes pobres de discernimento, acreditam naquilo que foi proposto por autoridades que lhes pareçam confiáveis. Ou por outra, essas autoridades tornam-se o principal instrumento dessas crenças, porquanto “obrigam” os fieis a acreditarem em milagres e demônios. A dedução é simples. Se as coisas tidas por sobrenaturais acontecem, não custa juntar mais algumas, ainda que sejam somente para ilustrar causos.
Mas ah! Que de sacrifício exige o meditar sobre acontecimentos que há tantas luas perderam-se no tempo? Pensar em coisas de tão remota e difícil compreensão e, não as entendendo, como pô-las em prática? Isso é próprio de quem prega tais verdades, pensam amiúde. É mais lógico precaver-se dos fantasmas dos tempos atuais!
Mas uma coisa é certa. Quando essas pessoas ajustarem a razão aos aparentes fatos e se informarem um “cadinho” mais, concluirão que coisas sobrenaturais não existem, nem nunca existiram. Tudo o que acontece entre o “céu” e a terra é o efeito de uma causa natural que, se investigada, fará com que se mostrem ridículas essas crenças.