O que não (se deve) dizer às mulheres.

A reação é sempre uma surpresa. Espanto, gritaria, cara de choro, cara de ofendida, braveza, riso sarcástico, greve de sexo...enfim, a reação é sempre uma surpresa. Quando se diz alguma coisa que não se deveria dizer a mulher alguma, sai de baixo, do lado, de perto e corra. Corra como se o teu pai tivesse na forca, como se fosse algum jamaicano recordista mundial nos cem metros razos. Não interessa como você corre, se desajeitadamente (como é o meu caso), corcunda, de costas, chinelo, avental de cozinheiro ou com o patinetes do filho. O que interessa, agora, e dar no pé, deitar o cabelo, picar a mula.

Das coisas que não se devem dizer, algumas são dignas de nota. A primeira, penso eu, é aquela clássica (mas terrível) que acontece na loja de roupas:

- Amorzinho, qual das duas eu levo?

E o pobre-coitado (mas um tanto cínico) do homem:

- Ah, acho que essa aí da mão direita combina mais com você. Sei lá, não entendo lá muito de moda, ao contrário do meu querido cunhado, teu irmão. Mas de algum modo parece que você ficou melhor com essa aí, da mão direita.

Ela, astuta como a natureza lhe permitiu, saca tudo na mesma hora. Ele pretendia era escolher a mais barata. Podia não entender de moda como o cunhado, mas de contas ele manjava. A mulher leva isso prum outro lado, diria um homem que defendesse a categoria masculina, ela iria fazer a rápida, mas errônea, associação entre o valor do produto e o valor sentimental. Como se fosse uma conversão do Real pra Libra, ela iria ficar chocada com a taxa que teve de pagar e não admitiria isso de bico fechado. E não admitiu, de fato.

-Sei que você não escolhe bem roupas, aliás esse deve ser um motivo por todas as tuas roupas terem sido dadas ou por tua mãe (daí deve vir grande parte do teu problema com a moda), ou por mim ou, ainda, pelo meu irmão...Essa sua calça aí foi ele quem escolheu, ele disse que você se veste com cores sóbrias só pra disfarçar o colorido que há dentro de você.

-Tudo bem, querida. Escolha qual você acha que fica melhor. Depois resolvemos isso enquanto parcelamos a nutricionista que ficamos de marcar. E o que teu irmão sabe sobre "sóbrio", ele só vive e conhece o oposto disso...

Cada vez mais o homem atola a si mesmo em um lamaçal de problemas, inseguranças e celibato.

-Amore, não ficamos de "marcar" a nutricionista. A gente ia ver se tinha necessidade disso, se REALMENTE precisamos ouvir alguém dizer que precisamos comer isso e não comer aquilo, que estamos gordos e essas coisas todas.

-Eu ia porque você, minha mãe e meu cunhado andaram dizendo que eu estava magro demais, que precisava ter uma dieta mais equilibrada porque o trabalho só me deixa tempo pra lanches.

Agora começa a esquentar.

-Bem, mas então se você não precisa emagrecer, quem precisa sou eu. Carlos Henrique, é isso que você está dizendo?!

-Não exatamente, docinho. É que só quero contabilizar o que nós poderemos gastar, já que pretendíamos viajar no fim do ano pra passar alguns dias na praia.

-Ah, entendi o que você quer. Você quer fazer um jogo esquisito e que me deixará meio zonza, me contradiga e vá à praia gorda?! Não Carlos, não entro nesse teu joguinho bobo. Vou levar esta daqui (a da mão esquerda, obviamente) e não se fala mais nisso. Pra combinar com ela preciso de sapatos e de uma nutricionista. Não porque estou gorda, mas porque preciso saber que tipos de alimentos permitem um bronzeado mais fácil e natural.

Ao passar no caixa o homem ouve a mulher proferir o imperativo "rápido com esse cartão, ou a joalheria estará fechada!". Ele, cabisbaixo mas cônscio do que lhe aconteceria se não aderisse às ordens, segue seu caminho em direção à joalheria, onde, evidentemente, escolheria logo a mais cara (a da mão esquerda), pra não correr muitos riscos.

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Chegam em casa exaustos e ela vai pro banho antes que ele. Ele fica

no sofá, contra as ordens da patroa, olhando tv. Depois, antes dela vir, ele sai como quem nunca esteve ali e vai pro pátio, finge estar mexendo em algo que deveria ter feito no Natal de 85,mais ou menos, e quando ela sai ele vai pro banho. Depois do banho ele já vê a mesa posta. Senta-se, então, no seu lugar costumeiro e espera. Enquanto espera observa a mulher e faz a seguinte pergunta:

-Como foi mesmo que a gente se conheceu?

-Ah seu bobinho, não se faça de dissimulado, Você lembra como e onde, que música tocava e essas coisas todas. Eu SEI que vc lembra.

-Acho que foi no Clube, quando tinha uma festa de fantasia. Fui de Batman e você de Mulher-Aranha. Não é isso?

-Não mesmo! Quem foi de Mulher-Aranha é a Luíza, aquela umazinha com quem você teve um lance antes da gente se conhecer. Não acredito que você fez isso, que você não só não lembrou do nosso primeiro encontro mas lembrou dela. DELA?!

-Mas não foi proposital, simplesmente veio à cabeça.

Infelizmente, pro Carlos Henrique, não foi só isso que "veio à sua cabeça". O vidro de conserva de pepino foi mais rápido do que qualquer pensamento de fuga que pudesse lhe ocorrer, quando se deu conta estava já com um baita galo na cabeça, fora de casa, com as malas jogadas todas a seus pés e com uma lembrança na cabeça que lhe encomodou muito: Não era a Luíza quem tinha ido de Mulher-Aranha, mas a Marcinha. Tanta confusão por um engano bobo desses...

Gabriel Dietrich
Enviado por Gabriel Dietrich em 23/03/2010
Reeditado em 24/03/2010
Código do texto: T2153984