Tempo fugaz!
Estou aqui sozinha...
Fecho os olhos e sinto borbulhar na alma
as lembranças de tempos que passaram
e as marcas que de alguma forma ficaram.
Uma brisa toca-me o rosto e,
como num terno passe de mágica,
conduz-me a recordar esses preciosos momentos.
Fugazes.
Sinto cheiro da chuva molhando nosso sertão,
E a satisfação em ver apurar no tacho o doce
de goiaba , estalando a lenha no fogão.
Lembro-me dos cheiros da infância,
com os brinquedos artesanais,
das folias de pura inocência,
e das escaladas em mangueirais.
E da cozinha vinha o cheiro do leite “in natura”
que fervia na caçarola e que fiquei de vigiar,
mas que, no ímpeto das brincadeiras,
a derramar veio.
E só me lembrei
quando o cheiro de queimado
deixou tudo esfumaçado,
e então me apavorei,
porque sabia que ia entrar no “reio”.
Sinto falta dos amigos da rua, das cantigas de roda,
do pula-corda , das bonecas de porcelana,
e do esconde-esconde com minha amiga Ana.
Sem esquecer do bambolé e pião,
nas festas na escola em dia de São João,
dos moleques enchendo a pança
e das danças com as meninas de trança
Tudo sob os olhares das mães que ficavam
com cadeiras nas calçadas,
rindo com assuntos de mulheres alvoroçadas,
Enquanto os homens contavam vantagens das
caçadas e pescarias que faziam,
sob os olhares dos filhos mais velhos
que, orgulhosos, sorriam.
Sinto vontade de ouvir novamente as serenatas
dos admiradores da faculdade,
que nas madrugadas, em plena cidade,
vinham com seus violões tímidos e vozes trêmulas
cantar seus desejos, na esperança de ganharem um beijo.
Sinto saudade do amor que não correspondi
e sabendo que era amada, apenas sorri.
Até me enrubesço quando me lembro dos que rotulei
como simples demais para mim e nem os cumprimentei,
apenas vislumbrei.
Sinto remorso das promessas que fiz e não cumpri,
por pura imaturidade.
E das vezes que fiz alguém chorar,
típico de quem tem pouca idade.
E ignorei.
Sinto tristeza de ter esnobado alguém,
que eu poderia ter conhecido melhor,
e me achei, nem olhei
Sinto saudade de meus pais, que não os curti direito,
muitas vezes até desprezei,
sem ter noção de quanto os amei.
Agora não os tenho e nem pude me despedir,
e naquela hora de dor foi que percebi,
que uma parte de mim também fenecia alí.
Sinto também pelas pessoas amadas
que quiseram se despedir de mim,
mas que por fraqueza não fui até elas
e com tristeza as perdi.
Sinto o frescor do focinho da minha cachorrinha
que tanto me estimava e se contentava só por
perto estar.
E depois de dezessete anos, na sua partida prometi,
que em seu lugar, nenhuma outra iria ficar.
Sinto o cheiro das cartilhas do primário
que eu gostava de encapar,
e do professor hilário,
que ao brincar se esmerava em ensinar.
Sem esquecer da sopa da cantina que minha mãe
com carinho, iria preparar
Fui sempre o orgulho para minha mãe,
pessoa simples que na sua singeleza
mostrava nobreza de carater e talento.
Trabalhou muito para nada faltar ,
sem contestar o cansaço ou o relento.
Mesmo no seu pouco conhecer naquela conjuntura,
fez questão de ir à minha formatura.
E em muitos momentos de vazio,
agora sei o que faltou.
Momentos que deixei pra trás,
que não falei, que desprezei e exclui
mas que foram tão marcantes que nunca os esqueci.
Essas lembranças são a força que preciso agora
e estão nesse exato momento me acariciando,
me confortando, me acalentando
e mostrando ao meu coração
que nada acontece sem ter razão.
Abri então meus olhos e percebi que a mesma
brisa que trouxe tudo isso à minha mente,
agora, num sopro angelical e de compaixão,
seca as lágrimas que chorei com muita saudade
e emoção
“E entendi que, com o tempo,
ou se aprende ou se perde bons momentos.”
Tempo fugaz.
Depois que tudo passa, só então a gente descobre
de repente que a felicidade que procurávamos
- e procuramos! –
está nos pequenos e simples detalhes que céleres se
foram e, agora, nada mais são do que pontinhos de
saudade encravados na nossa memória.
Tempo fugaz.
Tão fugaz que eu e você, ao lermos este texto agora,
vamos descobrir que ele já é outrora…
Tempo fugaz.
Assim como os sonhos…
Assim a vida jaz.