FILOSOFIA MOVIDA A ALCÓOL
Conversas de boteco são sempre (sempre mesmo) muito produtivas. Sábias, às vezes. É impressionante como as pessoas depois de uns goles de qualquer coisa com um certo teor alcoólico tornam-se invariavelmente profundas conhecedoras de Freud e cia. Sabem tudo de comportamento humano, química, física, engenharia, robótica e mulheres.
Numa dessas conversas o Otávio deu um soco na mesa que derrubou dois copos, e disse:
- Cá com meus botões eu sei muito bem o sentido da vida. Sei sim, eles que me disseram!
‘Eles quem?’ – perguntamos todos à mesa, num instante de lucidez e sobriedade, ignorando alguns copos de cerveja que já estavam no passado.
- Ué??...ic ic ... meu botões, caramba!! Vocês nunca... ic... conversam com seus botões?
‘Tavinho’ era o mais bêbado da mesa. Tão delirante que até nós ficamos sóbrios com a sua conversa sem pé nem cabeça. Mas, como a ocasião era de zoeira, resolvemos incentivar o lampejo filosófico de nosso amigo. O Paçoca, um dos que estava na mesa, e obviamente o mais sacana, perguntou, dando corda ao nosso aprendiz de Paulo Coelho:
- E o que seus botões falavam, Tavinho?
Todos riram e sabíamos que lá vinha bobagem. Escutamos com atenção.
- Ó, ‘prestenção’: pro botão da manga eu pedi o que ... ic... era o amor... ele me virou as costas...ic...ic... num disse nadica diiii nada, e foi ‘simborá’ (disse Otávio, fazendo um gesto de fim de jogo, cortando o ar) pro botão da gola eu pedi.... ó.... prestenção aí ô....ic.... pro botão da gola eu pedi o que era a morte... e ele...olha bem...ic...e ele 'soltô' o colarinho e me deixou respirar (nisso, arrancou a gravata do pescoço e jogou-a no chão). Pros botão da frente, eu pedi... ic.. ic... eu pedi quem sou eu ... ‘voceis’ sabem o que ‘eles mi disse’? Num disse nada! Nada! Desabotoaram todos correndo e fiquei pelado!
Silêncio momentâneo e perplexo na mesa.
Pedimos a conta e fomos embora. Mudos.
Muita filosofia para um dia só.