"FUMACÊ" NA MADRUGADA

Ainda na cama, de longe, ouço o barulho. Parece um zumbido de algum bicho esquisito. São eles que na madrugada vêm cumprir a estapafúrdia função de combater a espécie de maldição que, com a chegada das chuvas, se abateu sobre a cidade... E também sobre a Região, o Estado, o País: literalmente estamos à mercê da Dengue.

Saio pra caminhar e os encontro, os “homens do combate” feito insólitos fantasmas. Na semi-escuridão a caminhonete branca do serviço de saúde, surge na esquina. Com seus faróis ligados avança ziguezagueando, borrifando seu veneno. Inseticida pra todo lado, tremendo “fumacê”! A substância invade o ar, adentra minhas narinas...

Esta cena do amanhecer é deprimente. Reporta-me a um cenário de guerra, alguma coisa que já tenha visto num filme ou lido num livro qualquer. É algo meio surreal, nada compatível com os tempos atuais. Meu Deus! Então, em pleno século da modernidade, da tecnologia, do mundo digital, um mosquitinho qualquer emerge sinistro das águas paradas e com suas perninhas listradinhas apronta a seu bel-prazer? Irônico! O homem, sem controle da situação... E lá vai o insetinho terrorista com sua picadinha de extremo mau gosto...

Todo mundo em pânico, a epidemia cresce, se espalha feito rastilho de pólvora. O prefeito vai a rádio e minimiza: “Não é só aqui, tá em todo canto; o número de casos tá diminuindo; muito caso dado como dengue, no fim não é; o povo não ajuda, a prefeitura sozinha não dá conta...” Ops! Aí ele tem certa razão! Neste caso, o povo tem grande parcela de culpa, sim!

Ando pelas ruas, observo. O lixo acumulado é uma coisa desmedida. Latas, frascos, sacos plásticos, embalagens vazias... um festival de sujeira, empestando lotes vagos e, todo mundo sabe, os quintais também! O que deveria ser hábito, com dengue ou sem dengue, infelizmente não acontece! É assim, mais um agravante para o caos já instalado. Falta empenho, falta consciência, falta educação. O que se vê de gente que polui o ambiente é algo absurdo! E a situação cada vez mais dramática.

Enquanto isso, vamos jogando a culpa nos outros, juntando nosso lixinho, cooperando com a reprodução de milhões de mosquitinhos, superlotando o pronto atendimento e os hospitais e curtindo muito “fumacê”. O Aédes Aegypti agradece! E na pior das hipóteses, o serviço funerário também, que no fim das contas é o que menos sofre prejuízos... Muito pelo contrário...

MARINA ALVES
Enviado por MARINA ALVES em 21/03/2010
Reeditado em 21/03/2010
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