REVISTA DE FOFOCAS E LAÇOS IMAGINÁRIOS

Ultimamente ando meio desatualizado quando o assunto é o mundo das celebridades. Não sei onde reside o meu desinteresse. Acontece que não acompanhei de perto os filmes indicados ao Oscar. Não li, não ouvi nem televi qualquer comentário sobre o novo affair do Dado Dolabella. Não é provável que a Xuxa tenha comprado uma fazenda no interior do Mato Grosso e se transferido para lá na companhia de duendes. Mas se tivesse feito isso teria passado desapercebido por mim.

Tal foi a minha aflição que corri à banca de jornal e me lancei com apetite sobre uma revista de fofocas. Eu queria saber com riqueza de detalhes tudo que estava acontecendo com os famosos. Quem era a garota que estampava a capa e, principalmente, recheava as páginas da Playboy; os indicados da semana no paredão do BBB; a opinião da Cláudia Leitte sobre depilação, sexo e jardinagem; como eu estava ansioso para ver as fotos da nova mansão da Adriane Galisteu!

Não seria honesto me julgarem cínico, sarcástico ou fútil. Realmente fui acometido por uma súbita curiosidade pela vida alheia. Claro que a vida íntima, social e profissional dos meus vizinhos e colegas de trabalho continua desinteressante para mim. Mas confesso o meu arrebatamento pela existência destes seres de outro mundo, destes entes encantados, personagens que fazem parte da nossa vida.

Não sei nada da vida do meu vizinho da direita. Após mais de três anos morando ao lado da casa dele, só agora descubro que ele é casado. E que a esposa dele, que vi uma só vez, também é a minha vizinha da direita. A vida deles é um livro fechado para mim. Fechado em uma distante biblioteca. Não tenho o menor interesse em saber o que eles assistem na televisão, o que comem na sobremesa, se freqüentam alguma religião ou onde gostam de passear durante as férias.

Agora, tenho total interesse em saber tudo sobre o Jô Soares, por exemplo. Sei onde nasceu, que dia, conheço sua árvore genealógica, onde trabalhou, quanto ganha, tenho acesso a fotos dele quando ainda ia à escola, o que ele pensa sobre política, música e futebol. Se o Jô Soares morresse amanhã, certamente eu sentiria muito mais do que se morresse amanhã o meu vizinho da direita.

A ciência tem algumas teorias sobre o nosso interesse pela vida das celebridades. Biologistas dizem que é natural para os seres humanos prestar atenção em indivíduos que são notícias por serem bem sucedidos socialmente. Ainda de acordo com os especialistas, isso poderia significar o respeito aos bons caçadores e aos mais velhos. Para alguns especialistas, este costume pode ser um sinal de que indivíduos encontraram uma forma fácil de criar relacionamentos imaginários com pessoas famosas, em vez de se dedicar a pensar em relacionamentos com pessoas do seu dia-a-dia.

Isso explicaria o meu laço imaginário com Luana Piovani e o meu total desprezo à minha vizinha da casa em frente.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 21/03/2010
Reeditado em 21/03/2010
Código do texto: T2151158