Homossexuais

Estava fazendo um comentário na escrivaninha do meu amigo Aloizio sobre homofobia e homossexuais e lembrei-me de um acontecimento na escola onde trabalhava o qual começo a narrar:
Sou professora alfabetizadora, portanto meus alunos tinham entre seis e sete anos. Vez ou outra observava na minha turma, meninos que gostavam de brincar apenas com meninas e tinham gostos e gestos tipicamente femininos. Mas o que mais me marcou foi a história do Betinho (prefiro chama-lo assim). Ele tinha aparência de menino. E só. Gostava de brincar com bonecas e é claro com meninas. Ostentava gestos e andar feminino assim como o jeito delicado de falar. As meninas o aceitavam com naturalidade, mas os meninos já maculados com o preconceito dos pais vez ou outra o chamavam de bixa. Ofendido, queixava-se pra mim: “Professora, O Joãzinho ta me chamando de bixa!”. Sentia-me muito mal frente a ele pois eu não o chamava, mas pensava. Chamava o coleguinha em questão, conversava sobre respeito e tudo o mais, sentindo-me muito hipócrita naquele momento. Não por falar de respeito e tudo o mais com o Joãozinho, mas por pensar também que aquele menino era sim homossexual. Só que ele , o Betinho, não sabia disso. Pensei em conversar com o pai dele. Era um homem alto, loiro, olhos azuis, corpo atlético. E másculo. Olhando pra ele, desisti. O que diria? “Cuidado, seu filho parece gay!” ou, “Cuidado, talvez seu filho esteja com tendências homossexuais!” Sim, e daí? Ele faria o quê? Levaria no médico? Tiraria da escola onde havia uma professora louca? Pediria provas? Sei lá! Fiquei quieta e torcendo pra que o Betinho conseguisse ser feliz daquele jeito. Deixava que brincasse com meninas e com brinquedos que ele mesmo escolhia. Todos femininos! Minhas colegas assistiam e discordavam: “Tira ele dali! Manda brincar com os meninos!” “Ta errado isto! Onde já se viu? Se deixares vais colaborar pra ele ser gay! Deve ser a mãe que o trata como menina por isso é assim!”Chegava a discutir meu ponto de vista que era o de “que ele nasceu feminino, como vou obrigá-lo a ser diferente?”
Ele se alfabetizou normalmente e foi para o segundo ano. Lá era proibido de ser o que era. Não podia brincar com meninas. Eu o defendia sempre, mas era voto vencido. Mas o que mais me doeu foi uma cena que presenciei com ele no terceiro ano. Hora do brinquedo. Todos se reuniam com seus colegas pra brincar por afinidades, lógico. Escolhiam seus brinquedos. Betinho estava sentado numa roda de meninas brincando com bonecas alegremente. Eu o via de longe, pois estava com minha turma. De repente, a professora dele chegou ao grupo e falou com ele asperamente, não ouvi o que disse, mas imaginei. Ele ergueu-se e se aproximou dos meninos. Minutos depois eu o vi encostado na parede com um carrinho nas mãos. Sozinho. O rosto infinitamente triste.
Doeu. Não consegui defende-lo. Ali começava sua luta contra o preconceito. Ali se apresentavam as pedras no seu caminho. Solitário. Em qual grupo se encaixava? Onde pertencia? Passou para o quarto ano e nunca mais o vi!
Por isso, sei que ninguém escolhe ser homossexual. É genético! Como disse um amigo aqui no RL: “Uma embalagem com rótulo errado”. Atualmente.
Num futuro espero bem próximo, quem sabe “Uma embalagem com rótulo próprio!”