DE ONDE VIEMOS, PARA ONDE VAMOS?

Quem pode responder essas perguntas? Ninguém.

Tentaram fazê-lo incontáveis mentes, iluminadas ou não. Buda chegou a um parâmetro. Na verdade sua iluminação fica contida nas nossas limitações, não explica como ninguém explicará essas indagações. Elas não nos pertencem, não estão possibilitadas de serem desvendadas pela nossa humilde inteligência.

Ficou Buda em uma quase desistência, retirando-se da vida comum, o que fazem os monges-renunciantes, pois negando a vida comum, nosso “carpe diem”, nos despojamos das emoções concorrentes a viver a vida. Significa dizer, já morremos bastante.

Buda nos legou após sua busca, com inestimável proveito e valor, a pacificação interior onde não mais ficaríamos atemorizados com a “doença, a velhice e a morte”. É o encontro da realidade com a verdade. Não pertencemos ao mundo explicativo das ordenações maiores, somos pó, como mutação de matéria, e vida como oxigênio inalado enquanto respirado.

Tudo pertence à eternidade como a ela pertencemos nas duas formas, material e imaterial. Os evolucionistas, infantilmente, esbarram na volta ao “bing bang”, e nada podem provar em digressão, da mesma forma que os criacionistas.

Ensinou Buda que pela energia vital a que somos conduzidos pela essencialidade da meditação, leia-se concentração na respiração para reeducar a atenção, encontraríamos entendimento para o que somos neste planeta e, assim, ficaríamos pacificados na compreensão, alto estágio humano, de acesso a poucas pessoas, entronizados na certeza, firme e completa, de que a ilusão é caminho puro, largo e aberto para o sofrimento, e a isso tudo se dirige.

É preciso compreender nossa jornada, não nos desesperarmos com sua realidade inafastável. Somos pó e estamos no “vale de lágrimas”. Por isso vivamos nosso “carpe diem”.

Edgard Wilson, pioneiro da sociobiologia e da biodiversidade, considera que: “A existência do sobrenatural, se aceita, atesta a realidade daquele outro mundo tão desesperadamente desejado. Qualquer coisa servirá, contanto que dê sentido ao indivíduo e de algum modo estenda à eternidade aquela breve passagem da mente e espírito lamentada por Santo Agostinho como o curto dia do tempo”.

Estamos diante da ilusão do desconhecido como existe a ilusão do conhecido, o que vivemos agora. A fé alimenta aquela conduta, a irrealidade esta, trazendo surpresas para os despreparados, quase todos.

Com sua alta penetração aduz o cientista Edgar Wilson, tentando afastar o sectarismo e o fanatismo que desnaturam a normalidade da convicção: “A mais perigosa das devoções, na minha opinião, é a endêmica ao cristianismo: não nasci para este mundo. Com uma segunda vida aguardando, o sofrimento pode ser suportado – especialmente em outras pessoas”. Não só o cristianismo, mas qualquer posição fundamentalista, radical, assim posta, leva à desrazão e total insuficiência emocional.

Espertamente, diante disso, Pascal fez uma aposta, caso exista uma vida após a morte, raciocinou o filósofo do século XVII, sendo fiel, crendo, terei um bilhete para o paraíso e aproveitarei o melhor de ambos os mundos. Dizia ele, se eu perder, terei perdido pouco, se ganhar, ganho a vida eterna.

O ponto a ser atingido pela serenidade e sabedoria está na confluência do encontro da razão com o bem, no verdadeiro caráter que brota de uma fonte mais profunda do que a religião. E a religião visa moldar o caráter.

Caráter é a conscientização interiorizada dos princípios morais de uma sociedade, soma dos princípios pessoais escolhidos pelo indivíduo, fortes o suficiente para resistirem às provações da solidão e das adversidades, do sofrimento enfim.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 21/03/2010
Código do texto: T2150884
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