AQUI QUE EU VIVO...

Sózinha aqui, agora, onde posso ouvir até a minha respiração, me vem à memória o tempo que esta casa era tão animada... A vida invadia sem pedir licença, com sons de nossas risadas de crianças, sons do barulho silencioso de nossos segredos adolescentes, sons dos amigos...muitos, sons das preocupações com Faculdades, Pós-Graduação, Mestrado, sons dos casos dos trabalhos, sons dos amores consentidos - muitos casamentos - e os gritos do amor acontecido...

Depois veio uma época de silêncio, embora os sons dos telefones gritassem diária e constantemente...Mas quando chegavam os finais de semana, os feriados, as festas de fim de ano, os aniversários, os quatro, que agora já eram oito, vinham chegando dois a dois, injetando barulho, vigor, alegria, risadas por toda parte e parecia até que a casa sentia a chegada da vida, da juventude e com qualquer enfeite ela rejuvenescia, exatamente como acontecia com nossos pais, nossa tia - que sempre "gerenciou" nossa casa, pois nossos pais trabalhavam fora - e as secretárias.

Mas esse silêncio, como o tempo na sua constante rapidez , durou pouco, e a vida cumprindo o seu ofício, começou a povoar novamente esta casa e em pouco tempo de oito passamos a onze e de onze para dezesseis e de dezesseis para dezoito...Tempo de muito trabalho para nós e muita alegria e loucura para nossos pais e tia que tinham problemas adolescentes para resolver, problemas de crianças para atender e bebes para cuidar. Acreditem, eles adoravam... Se aposentaram quando a terceira neta nasceu... E a casa a tudo assistia e em suas paredes guardava os segredos de cada um de nós e, também, nem se incomodava com as várias modificações que sofreu, nos respondia ficando linda, jovem a cada mexidinha aqui ou ali....

Obedecendo ao ciclo da vida, seis novos membros passaram a vir por aqui e a casa os abrigou exatamente como fez com todos os outros. Com a ida das raízes, somos nós agora os avós e tia-avó.

É aqui nesta casa - de onde saí e retornei algumas vezes - tão amiga, tão cheia de histórias, tão cheia de boas lembranças, que eu vivo... Aqui vejo meu filho se tornar um homem, exatamente entre as mesmas paredes - tanta vez modificadas, sem nunca perder a fidelidade a todos nós - que guardam os segredos, alegrias, tristezas, muito, muito, muito amor da linhagem CARDOSO XAVIER.

(Maria Emilia Xavier)

Maria Emilia Xavier
Enviado por Maria Emilia Xavier em 21/03/2010
Reeditado em 25/03/2017
Código do texto: T2150866
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