O paraíso de Dante...

O outono do Dante era lindo, lá pelas pampas do sul, de manhãs doces, carregadas de neblina, folhas de plátanos que se perdiam com o vento, e muita alegria em seu pensamento, de menino sensível, sonhador. E me fez aqui sentir inveja, que coisa feia, um dos sete pecados capitais! Preciso me confessar. Mas, me lembro desse tempo, que correu muito rápido, feito o vento lá das bandas do Dante. Nada é como antes. Ficaram as doces lembranças, de meu tempo de criança. O pai levantando cedinho pra catar gravetos. O fogão de lenha, que fervia a água de poço para o café torrado e moído na hora, com cheiro da terra, com aroma do amor, de minha santa mãe! Ali tudo que se fazia vertia o suor do amor! Madrugadas frias, éramos atraídos pelo cheiro da relva molhada, a vaca mugindo lá no curral. Meu pai espremia as tetas da vaca “jersinha” em nossas bocas...saúde pura! Não havia aftosa, não havia bactérias, não havia peste daqui, peste dali. Era tudo in natura, expresso. Sem frescura, só a frescura de seu sabor! E depois eu corria para o pomar, as tangerinas amareladas, meio maduras, pegas no pé, tinham um sabor de coisa fresca. Hoje, quando conseguimos comprá-la-- porque a engenharia genética muda tudo, casa tudo com tudo-- já não têm o mesmo sabor! A mangueira florida, dava um colorido especial ao quintal. Nesse tempo de quaresma, forrado de folhas amareladas, minha mãe não permitia que o varrêssemos com as vassouras de guanxuma. Por respeito à paixão de nosso Senhor! Tempo de recolhimento. Tempo de penitência. Tempo de oração! Tempo de profundo amor! Tradições que se perderam em tantos outonos que se passaram...

Benvinda Palma

Bemtevi
Enviado por Bemtevi em 21/03/2010
Reeditado em 21/03/2010
Código do texto: T2150393
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