Professores: vocês não são meus pais!

Quando o pai relatou a seu filho que o videogame oferecido, na promessa da semana passada, caso tirasse boas não podia ser concretizada, o menino caiu em prantos. O responsável quebrou um código de ética. Prometera ao guri. Mas o menino só não teve o brinquedo em suas mãos devido a uma nota obtida na avaliação de matemática. Foi vermelha, portanto nada daquilo que lhe fora prometido.

Por semanas o garoto ficou a chorar. Insistia com seu pai, implorava para que sua mãe interviesse e que seu tutor voltasse atrás. O pai não cedeu às lamentações pueris, permaneceu com o castigo até que a nota da disciplina “avermelhada” fosse recuperada. Vários exames foram realizados com o aluno, os médicos especialistas descobriram que nada de grave se passava com aquele cérebro novo, ao contrário, o menino tinha muita inteligência. Na verdade a preguiça era o mal que o sondava. Com um pouco mais de estudo e dedicação às notas azuis e brilhantes não demorariam a aparecer. O pai necessitava cobrar.

Mas a cobrança não deve vir dessa forma, há que se dialogar. O game, assim como o computador deveriam ser elementos extintos da educação pueril quando utilizados como jogos, telefones ou cartas; do contrário, quando utilizados para pesquisa, consultas e trabalhos escolares tornasse um importante elemento aliado à educação escolar e caseira. Há que se ter cuidado, acompanhar o que seu pupilo faz diante das telas. E o que vejo são pais distantes dessa fiscalização, alienados ao trabalho e quando chegam em casa para viver o momento familiar (aqui se inclui a fiscalização) abdicam-se dessa obrigação. Optam pelo mesmo computador, pela TV e espantem-se: pelo game. Para o filho não há mais tempo. Pausa para um descanso.

Quando chegam as férias escolares à opção é por enviar as crianças para um lugar bem distante da família. E que fiquem por vários dias. E o questionamento é uníssono: por que essas férias escolares? Quando o filho retorna lá estão os presentes comprados, o computador liberado para o MSN, o orkut, para os jogos. Voltaram atrás. A decisão não foi tomada, muita menos mantida. Acha-se que com o tempo o filho mudará. E como mudar se não há imposição de limites, de regras, de deveres? Como ensinar para uma adolescente que ele tem que manter a sua sala de aula limpa, se em casa o quarto dele é uma bagunça? Como ensinar para um jovem ou mesmo uma criança que é importante organizar o seu espaço dentro de uma sala de aula se em casa ele não arruma a sua própria cama? Como ensinar para uma criança ou jovem que o dinheiro é importante, mas não é vital, se desde os seus primeiros passos os pais lhe oferecem os brinquedos mais caros, apostam em equipamentos tecnológicos etc? Como ensinar que o cidadão possui seus deveres, suas obrigações, se em casa nada disso é passado ao seu dicionário? O que fazer com um jovem que não gosta de ler? Utilizarei todos os métodos possíveis para estimulá-lo. Mas em casa os pais não lêem, nunca compararam um livro para a criança, nem mesmo contaram uma história no momento de dormir.

É difícil remar contra a corrente e, principalmente, quando essa corrente são os próprios pais. E quando você tenta alertar essa criança ou mesmo esse adolescente vem logo as exclamações: “Você não é meu pai ou minha!”; “Os meus pais não fazem assim!”.

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 20/03/2010
Código do texto: T2149196
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