Quindim

Luizinha era o nome dela. Mineirinha, do sul de Mg, e estava rondando a cozinha o dia todo. Era um dia importante, era quase como se fosse natal, ano novo, coisa assim.

Sabe, a mãe dela não tinha muito dinheiro. Moravam numa casinha dessas de barro batido, um lar humilde mas que era construido com o melhor material que existe, o amor. E é nas coisas simples que a gente sente o verdadeiro sabor da vida. E hoje era um desses dias de coisas simples.

Quando a gente tem tudo, às vezes a gente não sabe dar valor, ja quando não tem nada qualquer coisa sem valor pode ser de um valor imenso. Ainda mais que o dinheiro era curto. Era arroz, feijão e quando sobrava tinha um ovinho. E nada mais. E mesmo assim, a garotinha tinha a melhor vida do mundo. Ela, a mãe e a gata.

E por isso que a garotinha loira não parava de rondar a casa. Conversava somente com sua gata de estimação, na verdade era a única amiga que tinha. Sabe, na vila era a única criança "pequena" e as crianças grandes não queriam se enturmar, então ficava ela e a gata.

Hoje estava apreensiva. Ficava toda hora olhando para os lados, esperando a mãe chamar. Estava do lado de fora da casa jogando um graveto para distrair ao mesmo tempo a sua atenção e a da gata, mas era um dia muito importante, não tinha como se distrair.

E esperou. A última vez que estivera tão ansiosa assim fora no nascimento da própria gata. A gata era filhote da gata da vizinha. A gatinha nasceu mirradinha, ninguém botou fé que a bichinha ia vingar e mesmo assim vingou.

E hoje era outro dia importante, estava lá ela e a gata que chamava Mia (e que nome seria mais indicado pra uma gata não é?) esperando.

E esperou quase o dia todo. A mãe a chamou e ela pulando já foi. E entrou na cozinha e lá viu seu objeto de desejo o dia todo. Aquele doce de coco e gema de ovo. Quindim.

Fernanda Motão
Enviado por Fernanda Motão em 20/03/2010
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