Os Cafés de Paris
A luminosidade se alonga e se espreguiça nos céus nos verões em Paris. No Sena os bateaux-mouches navegam sonolentos. Os odores rasgam o ar quente para serem aspirados pelas narinas dos passantes desavisados. Odores que nada lembram as ruas fétidas de Paris de dois séculos atrás.
O cheiro do café parecia entoar um hino de alegria! Brasileiro que se preza não fica sem um café. Os Cafés pululam pelas esquinas de Paris. Ricardo acaba de sair do Museu do Louvre. Na altura da 6 rue de L'Amiral Coligny em frente ao Louvre algo lhe chama a atenção. Um prédio charmoso o envolve. O seu estilo londrino destoa do estilo francês; mas, não tira o seu charme.
Um bar, café, restaurante com uma biblioteca de sacudir o coração e o cérebro de um amante da leitura; para, bem a frente do moço. Um café com gosto de literatura! No happy hour fica difícil encontrar uma mesa. Consegue uma mesa ao lado de uma janela.
O interior de Lê Fumoir revela no seu longo balcão de madeira escura um clima de mistério. Suas luzes amareladas fazem um jogo de claro e escuro intimista. Os espelhos refletem a vidraria expondo os copos, como se estivessem iluminados.
As prateleiras repletas de livros adicionam um visual litero-gustativo aos fregueses. As luminárias pendentes do alto das prateleiras aquecem o ambiente. Lustres parecem cair dos tetos por sobre as mesas trazendo aos olhos do leitor, a facilidade da leitura.
Ricardo ouve o som de contrabaixo na sua barriga. Fome! Acaba de lembrar que tomou o café de manhã, e, depois não comeu mais nada. Nada! Senta-se à mesa perto da janela, com um livro nas mãos. Recebe o cardápio de um garçom nada sorridente.
A fome o impeliu e a escolha foi rápida: um suco de manga, laranja e abricot. O garçom trás a mesa uma tigela, com uma água quente, galhinhos de alecrim, pétalas de rosa e salsinha seca.
“Nossa! Que sopinha rala. Tenho certeza, que não pedi.”
O estomago ronca. O jovem olha a tal sopinha sem graça. Coloca mais sal e a toma com sofreguidão.
Volta a olhar o cardápio e escolhe uma sopa de mâche. Tenta descobrir; qual é o tipo de folha da composição da sopa? Não consegue!
“Essa tem mais sustância!”
Ainda com fome faz outro pedido em seu francês- aportuguesado para o garçom mal humorado.
“Une tartine de saumon fumé, crème, fromage de chèvre et de tranches de carottes
Como as porções são pequenas, a fome não se aplaca. Levanta a mão para o garçom e pede uma salada acompanhada de sanduíches e patês.
“Accompagné d'une salade de sandwichs et des patês, s'il vous plaît”.
Satisfeito pede a conta.
A demora o assusta. Lembra que não prestou atenção no preço dos pratos do cardápio. A fome embaçou a sua razão.
O garçom entrega a conta. Ele parece entrever um sorriso maroto nos lábios do bendito.
Corre os olhos pela conta: entrada: 30 euros. Soupe: 12 euros. jus : 5 euros. Plat principal: 50 euros. Tipping: 15%: O cérebro soma com uma rapidez estonteante: 97 + 15% da gorjeta=111, 55 euros?
“Nossa! Como? Quanto? É demais!”
Embasbacado, revisita a conta para conferir. Tudo certo. Ricardo pensa que a sopa aguada é que faz a conta crescer.
Um casal sentado a mesa ao lado, também, recebe a tal sopinha de galhos e pétalas. Antes de chamar o garçom para perguntar o preço da tal sopa, algo inacreditável , acontece!
Os franceses lavam as pontas dos dedos na sopa e os enxugam nas pontas dos guardanapos.