Ouvi de um caminhoneiro
Fazia tempo que não o via. Também não é pra menos, ele vive sobre rodas. É caminhoneiro, e pela força da profissão conhece esse Brasilzão. Conhece cada ‘buraco, cada curva’, Segundo ele, o caminhoneiro tem a estrada como um cd que de tanto ser rodado faz o ouvinte assimilar cada letra, cada acorde.
No meio da conversa, ele contou uma experiência que teve numa das suas viagens. E nesse texto tentarei ser fiel ao que ouvi e que me deixou pensativa e maravilhada com o cuidar de Deus. Para muitos, um relato inventado; para outros uma experiência a mais, uma experiência com o Criador.
O caminhoneiro pegou uma viagem de Recife até Petrolina. Quando descarregou o caminhão, alguém lhe propôs outra viagem. Depois de se informar sobre a carga, acreditando que não seria exigido prazo de entrega –cocos verdes- aceitou sem titubear, porém depois da carga coberta o rapaz lhe disse que o caminhoneiro teria que chegar a São Paulo em três dias. Coçou a cabeça, pensou no frete gordo, avaliou suas condições físicas e optou pela viagem. Comprou dois arrebites e saiu a toda. Segundo ele, só parava pra tomar banho, comer e beber um pouco; após dois dias sem dormir foi parado por um guarda, fez o teste do bafômetro, e depois de constatado que não estava bêbado foi multado por ter uma luz queimada.
Sentiu cansaço, percebeu que precisava de mais dois comprimidos pra conseguir chegar até o fim da viagem. Lábios secos, olhos vidrados, eram-lhe sintomas suportáveis. Já sem distinguir entre o céu e a terra, parou num posto na tentativa desesperada para obter os comprimidos. Encontrou um conhecido que tinha cinco, recebeu dois. Tomou o medicamento e por sentir muito calor, deixou os vidros arriados e começou a levar vento e o orvalho da noite. Resultado: o remédio não fez efeito. Segundo ele, qualquer vento, chuva, um pedaço de doce corta o efeito do remédio no seu corpo. Começou a batalha contra si mesmo. Tombando, sem conseguir manter os olhos abertos, passou a encarar as descidas na quinta, quando os mais experientes motoristas usavam a quarta. De repente, ele ouviu uma voz que lhe sussurrou ao ouvido: ‘Você não pode dormir agora. O posto está longe. Não feche os olhos. Você está vendo aquele caminhão branco? Não tire os olhos dele. Siga-o, porque se você fechar os olhos você vai morrer. ’
O caminhoneiro, com os olhos umedecidos disse-me: ‘Não contei essa experiência pra ninguém, só pra minha esposa. Chego a ficar arrepiado só em falar.’ Desejosa de ouvir o resto da história lhe perguntei: E depois, o que aconteceu?Ele me respondeu: ‘Eu fixei meu olhar na estrada, e realmente avistei um caminhão todo branco. Fiz força para não arriar e segui o caminhão. E quando o sono me fazia inclinar para a janela, alguém sentado no banco do carona voltava a me alertar. ’
- Não tire os olhos do caminhão branco. Está perto. Agüente mais um pouco. Você não pode dormir.
‘Quando cheguei ao posto, estacionei o caminhão e peguei no sono. Quando acordei no dia seguinte, percebi que realmente tinha apagado sem fechar os vidros, sem guardar a carteira. Percebi naquele momento, que Deus realmente cuidou de mim naquela estrada deserta. Pois eu estava tão dopado que nem quando passava os companheiros de estrada, quando apitavam ou usavam o farol eu não atinava para responder com o apito de praxe.’
Com voz embargada, acrescentou: ‘ Era Deus que também cuidava de minhas filhas que havia ficado no nordeste à espera do pai que voltaria com o sustento. ’
Emocionada, lhe agradeci por ter me contado tão grande experiência. Depois de meditar, resolvi compartilhar com você. Essa história é dedicada a você que acredita que há um Deus que cuida, e que tem poder para realizar o impossível na vida de cada um de nós.