O espírito das estradas

A preocupação sobre a vida noturna dos carros e o aprendizado durante a noite está em foco e será lei. Há leis demais neste país e educação de menos. Dirigir é um desafio durante a noite nem se fala. Ficamos cegos também quanto ao valor total da carteira de habilitação. Carro custa carro. A idéia de que só os ricos podem possuir tecnologia de ponta é uma realidade até que chateie os abastados. Então a tecnologia se vulgariza. Já escrevi nesta tribuna literária que aprender a estacionar é necessário, porém utilizar o desafio em tempo restrito, dentro das regrinhas abjetas deveria ser reprovativo sem ônus. Lindo de dizer: reprovativo sem ônus. Vale repetir nacionalmente para ver se pega moda.

O exame para estacionamento tornou-se o terror do motorista novato porque ele precisa desembolsar a cada erro de desatenção em face a pressão logicamente exercida. A pscicologia é cumplice dessa estulta avaliação à Pavlov. Logo vem a relação primitiva de cobertura da culpa com capital, seguindo até o deslimite, que o senhor leitor (a) compreenderá facilmente em caso de atropelamento. Toda multa é garantida hipocrisia que dói no bolso de quem não tem recurso disponível para o desprezo desse reles efeito prático. É desigual. Cem reais no bolso do trabalhador não tem o mesmo valor daqueles cem reais no bolso de um milionário petrolífero.

É de estranhar que o estacionamento obliquo, empregado por autoridades em certas situações, não contemple outra opção para estacionamento em dias de prova do DETRAN. Nesses anos todos de leitura, caro leitor motorista, junte-se o número de infrações graves oriundas do ato do estacionamento. Nunca vi em nenhum noticiário das mazelas diárias algum caso de abalroamento no estacionamento. Manchete: fusca contra dois fiats em espaço limitado bateu nos dois para chegar mais cedo ao circo. O fusca apanhou muito. Os demais foram para o “recall”.

Provavelmente existe muita gravidade na ausência de clara pedagogia para o trânsito como direito social da carteira de habilitação, além da oportunidade para profissão de alto risco. É repugnante verificar o tratamento com rigor nesse exame famigerado de baliza, ou seja, estacionamento que virou fonte de lucro para fornecimento de “carteira provisória!” Carteira provisória.

Autoridades! Nenhum motorista é levado à ciência do trânsito com aquela paixão forte da técnica. Senhor motorista, piloto, com “status” de astronauta resulta em motorista conceituado, orgulhoso de ser motorista com total urbanidade.

Estradas ruins, mal sinalizadas ou sem sinalizações. O serviço que nos impõe uma regra é originalmente rígido para carteira de habilitação provisória. Talvez fosse ótimo em cada estado um simpósio para discussão sobre o trânsito, com rodovia de treinamento anual, estradas sinalizadas virtualmente, carro virtual, medicina preventiva atualizada. Mas não. Em caso de reprovação o próprio carro do DETRAN gera novamente taxa para novo exame, mais dinheiro para novas aulas se desejamos aprender a dirigir com cidadania no percurso da estrada social. Aviso: Se você tem carro ele será inútil para a prova.

Ah! Presidente. Talvez fosse bom revelar que o número de acidentes graves nas estradas deste país envolve na grande maioria motoristas habilitados. Então? A primeria culpa é da bebida, sabemos, é cruel como vivemos debruçados sobre o parapeito idiota das primeiras evidências informativas. Falta de filosofia. Notório que a bebida cobre as demais deficiências e faz desaparecer as variadas causas primitivas do processo.

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