RECORDAR E VIVER
A pouco estava sentada na varanda de minha casa, quando um vento calmo e gostoso se fez presente.
Junto com ele como magica, vieram recordacoes tao queridas de pessoas que tanto amei e amo, mas que ja nao estao mais aqui nesse mundo.
E recordei de cada um com um carinho sem fim.
Meu vo querido, doce, simples, afetivo, figura de uma bondade imensa, jamais o vi responder mal a quem quer que fosse.
Em seu colo na cadeira de balanco na varanda de nossa antiga casa, tantas vezes fui ninada, escutando lindas historias que sempre se repetiam, mas quem se importava, contadas por ele eram magicas e novas toda vez.
Minha vo sempre tao presente em minha vida, depois da morte de minha mae, foi ela e meu avo, que me acolheram.
Era dona de um coracao maior que o seu peito, generosa, acolhedora, bondade creio que seja a palavra que a defina.
E assim, fui lembrando-me, e o vento voltava de vez em quando a bater suave, como a me trazer em seus bracos detalhes de lembrancas que eu houvesse esquecido.
Visitei em pensamento a nossa casa tao simples e acolhedora, naquele pequeno vilarejo, que hoje nem existe mais.
Mas em minhas saudades e memoria nunca ira desaparecer.
Entrei pelo portao alto de madeira, pisei devagar para ter tempo de rever cada pedrinha do caminho do jardim, ate a area e a cozinha.
Toquei com as maos as roseiras, com botoes de todas as cores, que minha avo cultivava, com zelo e orgulho.
Dali ja avistei a area com a cadeira de balanco, e novamente embalada pela caricia do vento que sobrou fresco ao meu ouvido.
Me vi, ali menina aconchegada ao colo do meu avo, balancando na cadeira, ouvindo ele cantar uma de suas doces cantigas, naquele momento era: " Teresinha de jesus, numa queda foi ao chao, acudiu 3 cavalheiros todos 3 chapeu na mao....."
Subi vagarosamente pelas escadas e cheguei a cozinha.
O vento tocou novamente meu rosto, e trouxe com ele os aromas daquela cozinha, onde tantas e tantas vezes fizemos nossas refeicoes.
Haaa e pude sentir, os cheiros deliciosos da comida de minha vo.
Uma mistura fresca de manjericao, alecrim, salsa, invadiram minhas narinas, e com os olhos da imaginacao, vi a mesa com as seis cadeiras, com simplicidade arrumada, o carinho estava por toda parte, desde a limpeza a arrumacao, ate a refeicao farta e deliciosa.
Queria me sentar no mesmo lugar que ocupava quando crianca, e esperar todos para iniciar a refeicao
Porem, uma lufada de vento morno tocou novamente em meu rosto, me convidando a continuar.
Sem vontade de deixar aquele ninho acolhedor que era a nossa cozinha, adentrei com passos vagarosos, pelo meu antigo quarto, la estava minha cama de cabeceira e peseira em madeira, uma colcha branca de piquet de algodao muito alva a cobria, sobre ela, meu travesseiro descansava, vestido com uma fronha bordada por minha mae, contendo as iniciais do meu nome.
Do outro lado um velho guarda roupa, e a janela compunham a simplicidade do quarto.
Dei alguns passos, e abri a porta do antigo guarda-roupa, e la estavam eles, meus vestidos de domingo, o de organdi cor de rosa de bolinhas brancas, que so usava em festas ou para ir a missa aos domingos. Adorava aquele vestido todo rodado.
O sapatinho de verniz branco, modelo boneca redondo na frente.
Tambem, estava la, como de costume guardado na caixa de papelao branca, para nao estragar.
Ali poderia ficar por toda vida, sentido os cheiros e revendo com emocao tantas e tantas coisas que compuseram minha historia de infancia.
Mas, o vento voltou a soprar passou pelos meus bracos, e me deu como que um abraco, e me convidou a voltar.
Abri novamente meus olhos, e revi a varanda de minha casa de agora, e pensei meu Deus foi tao real, tao intenso e calmo esse meu devaneio, que pareceu de verdade.
O vento novamente, tocou meu corpo, suave, brejeiro, amigo, como a me dizer vamos, e hora de acordar, o sonho ja acabou.