O MOVIMENTO SINDICAL DA DÉCADA DE 80 E A GREVE DE 1985 NA BAHIA
O Sindicato dos Trabalhadores do Ramo Químico / Petroleiro do Estado da Bahia conhecido nas décadas de 70 e 80 como SINDIQUIMICA, sempre teve como alvo proteger e melhorar o nível de vida dos companheiros industriários que vendiam sua força de trabalho no Centro Industrial de Aratu, Polo Petroquímico de Camaçari, e diversas indústrias espalhadas pelos quatro cantos do nosso Estado. Procurava com isso dar uma cooperação efetiva na produção de todas as necessidades da vida de famílias que constituam uma sociedade florescente e participante.
Esse Sindicato era alvo de constantes perseguições impetradas pelo governo do Estado cujos dirigentes ainda eram aqueles que participaram do golpe de 1964. A livre organização dos sindicatos era impedida pelas investidas policiais e medidas forjadas pelos patrões para enfraquecer a categoria.
Movimentos foram iniciados em empresas como Melamina, Tibrás, Metacril visando tratamento mais humano e bem estar para seus funcionários e suas famílias. No período da ditadura foram diversas as tentativas de fragmentação do SINDIQUÍMICA, como o impedimento dos químicos de fazerem parte do mesmo (os químicos eram considerados como uma categoria diferente dos petroquímicos) e a colocação da Central de Manutenção – CEMAN na categoria dos metalúrgicos. Arbitrariamente assim a categoria foi dividida com as tentativas de enfraquecimento da organização sindical. Porém, todas essas medidas só fizeram fortalecer os trabalhadores aumentando a sua disposição de unidade. Os químicos fundaram o PROQUÍMICOS (sindicato fundado a partir da fragmentação) e posteriormente se fundiram novamente ao SINDIQUÍMICA. Com a nulidade das investidas contra a organização sindical ampliou-se a solidariedade entre trabalhadores de diversas empresas. Os militares temiam que com o fim da área de segurança em Camaçari, perdessem de vez o controle sobre o movimento sindical do pólo. Buscando atingir diretamente os trabalhadores demitiram ativistas e dirigentes sindicais em grande escala.
Ao movimento sindical ficou claro: iria se processar uma onda de demissões em massa após a campanha salarial e a opção, única frente à repressão, foi a de lutar. A greve de 1985 foi puxada pela COPENE e em seguida acompanhada pela NITROCARBONO, POLIALDEN, PRONOR e ACRINOR não foi deflagrada apenas por questões salariais, mas principalmente para combater a sanha repressiva. A repressão à greve foi violenta, usou-se todo aparato repressivo da época, aproveitando-se inclusive da famigerada “Área de Segurança Nacional” para espalhar por todo o pólo pelotões de choque da Polícia Militar. Em nada a repressão à greve de 1985 deveu à repressão dos anos de chumbo. Até mesmo “serviço de inteligência” foi utilizado, infiltrando informantes no movimento.
As empresas petroquímicas demitiram de uma só vez inicialmente nos dia 4 e 5 de setembro cerca de 186 (cento e oitenta e seis) trabalhadores, dentre eles cipistas e dirigentes sindicais e durante o ano (até o mês de dezembro) foi mais uma levada de trabalhadores demitidos. Afastaram dirigentes sindicais para “apuração de falta grave”, como se exercer o direito de greve fosse um crime de segurança nacional. Só mesmo a mentalidade repressora, resquício da ditadura militar, para impetrar tal crime contra a livre representação sindical. Mas não pararam por aí. Os trabalhadores e dirigentes demitidos foram vítimas de perseguição através uma lista, na época conhecida como “lista negra” que os impediam de trabalhar em qualquer parte do país. Não havia findado a ditadura na Bahia, especialmente em Camaçari. A iminente perda do poder absoluto fez com que os senhores Geisel e Antônio Carlos Magalhães (conhecido como ACM) comandassem um processo odioso de repressão à livre organização. A democracia os desafiava, os movimentos sindical e popular para eles eram um desafio, um desacato. Talvez, para quem não viveu a repressão naquele período, a sensação fosse a de que o País já havia alcançado a democracia. Infelizmente não foi assim. A democratização lenta se fez ainda mais tardia na Bahia. Tal qual um senhor feudal, ACM a tratava como se fora sua capitania hereditária. Muitos tiveram que pagar caro frente à sanha dos “senhores” de então, dentre esses os trabalhadores do Pólo Petroquímico de Camaçari. Mas lá, como de resto em nosso país, hoje a democracia está viva. Sem dúvida, obra também desses corajosos trabalhadores, que, para que se faça justiça, ainda clamam por serem anistiados.