Saudosa Caraibeira
Assim como Humberto de Campos, escritor maranhense, falava da saudade de seu cajueiro, falo eu também da minha caraibeira, árvore do semiárido nordestino, que pode chegar até 20 metros de altura. A minha não chegou a tanto. Talvez uns dez metros. Tronco grosso, galhos frondosos, era ali onde subíamos para ver o trem chegar e o pouso dos aviões no outro lado do rio, a cerca de cinco quilômetros, na vizinha cidade de Petrolândia, na região do vale do São Francisco. Sob a sua sombra, ficava um pilão de baraúna, onde a minha mãe pisava arroz e café torrado em grãos.
Pela proximidade da casa, não mais que vinte metros, era ali onde ficávamos acompanhando aquele trabalho, enquanto conversávamos sobre o nosso dia a dia, com outras inúmeras atividades que sempre exigiam a força física. Durante a primavera, a árvore ficava toda florida com suas lindas flores amarelas. Depois, ao caírem as folhas e flores, ficávamos por algum tempo sem aquela gostosa sombra. Por ser a árvore mais próxima de casa, era ela a mais procurada por nós, nos dias ensolarados. Outras àrvores frondosas como o juazeiro, o umbuzeiro e a quixabeira, por ficaram mais distantes, não eram as preferidos para o nosso eventual abrigo.
Como é natural queremos rever aquilo que fez parte da nossa infância, voltaríamos lá tantas vezes quanto fosse possível, para novamente subirmos naquela nossa linda caraibeira, mesmo não mais podendo ver a chegada da “Maria-Fumaça”, desativada há muito tempo. Hoje, nem árvore, nem casa e nem cidade. Tudo está submerso, em razão do grande Lago de Itaparica com seus 12 bilhões de metros cúbicos de água. A saudade fica por conta do preço do pregresso. Nova Usina Hidrelétrica, novas cidades, novas agrovilas, todas mais promissores do que as anteriores. E lá se foi a minha caraibeira.