As cores animalescas de vovó e Carolina
As cores animalescas de vovó e Carolina
A avó leva a neta do colégio pra casa. Carolina traz do nada:
_ Vó, você inventa as coisas. Lembra de quando inventou cor-de-gato? Imagina só se tem cor-de-gato... _ Diz a menina, muchocho e pouco caso.
_ A vovó inventa sim.
_ Mas você só inventa, vó!
_ Queria fosse assim, e não é. A língua é muito mais inventadeira, tem até cor-de-burro-quando-foge... E de noite todos os gatos são pardos.
_Cor-de-burro-quando-foge... Vê se pode...Se você não inventou, isto é do tempo do onça...
_ O pior, é do tempo do onça, o engraçado é que não caiu de moda...
_ Cor-de-gato não tem não. _ Afirma a menina.
_ Só que cor-de-gato não é do tempo do onça.
_ Vovó! Por que você insiste em ganhar todas?!
_ Porque você, Carolina, já roubou muito de mim, quando a gente jogava Mico Preto. Levantava a carta do Mico bem alto, e eu comprava, lembra?
_ Tem dó, vó, eu nem lembro.
_ Pois é, tem preto-mico, azul-arara, vermelho-picapau...
_ Vó, picapau é marrom.
_ Sim, mas picapau tem crista vermelha.
_ Já vi picapau com crista vermelha, mas também vi picapau com crista amarela.
_ É verdade, Carolina? Pergunta vovó.
Orgulhosa pelo ponto feito, a menina afirma que sim, tem picapau lá na casa dela, que mais parece uma chácara, a festa do caqui.
E as duas seguem descobrindo as cores de bichos:
_ Branco-rato... _ diz Carolina.
_ Essa existe, _ concorda vovó.
_ E verde-jibóia? _ Carolina se levanta do banco de trás, pra olhar vovó no olho, pelo espelho retrovisor.
_ Acho que sim...E sabe? Falando em verde-jibóia me lembrei que em "O Pequeno Príncipe" havia um desenho que mais parecia um chapéu... Mas não era um chapéu. Era um elefante engolido por uma jibóia.
_ Ai vó, lá vem você.
_ Só que essa daí, não é minha. Nem a idéia, nem o desenho, nem o tal do pequeno príncipe...
_ E de quem é? Da língua? _ Carolina responde briguenta.
_ Sim, da língua e de Saint Exupery, o aviador que escreveu "O Pequeno Príncipe". Vou comprar o livro pra você, e podemos ler juntas. Quer?
_ Claro que sim, _ afirma Carolina, quase esquecida das impertinências de sua avó. E acrescenta:
_ Vovó, se o tal do Saint Exupery era aviador, era também escritor?
_ E o que você acha?!
_ Acho que ele pode ser aviador e escritor. Mas preciso ver o livro, senão acho que você inventou tudo isso também! _ Responde
_ Tá combinado, mas você acha que sua avó lhe mente?
_ Mentir não, você não mente, mas às vezes não sei quando você está inventando... Você tem muita imaginação!
_ Ah! _ Murmura a avó, sem saber se podia ser elogio ou...bem, alguma coisa pertinho de um xingamento, desses que matam os avós de orgulho. E de rir.