CAÇADOR DE BRIGA

Ele era, sim, um caçador de briga! ... Um valentão nato que, desde criança, aprendera a brigar por qualquer motivo, por dá cá aquela palha, como se diz no interior.

Mulato de olhos claros,alaranjados, quase verdes (olho de cobra ruim), cabelos curtos e encaracolados, cicatriz em diagonal no rosto, adquirida em confronto, seu nome de guerra era “White”. Andava sempre pelas ruas do bairro da Renascença, freqüentava todos os botecos das redondezas, mas era no Bar do Dedeu, na Rua Jacuí, que ele era geralmente encontrado, sempre acompanhado de dois maus elementos. Se um sujeito qualquer olhasse enviesado pra ele, pronto! Já era motivo pra discussão e enfrentamento. E o pau comia, ele assumindo o controle do entrevero, com a cobertura dos seus dois asseclas. A vítima só tinha a perder. Covardia! ...

Certa noite de verão, vindos das “Barraquinhas da Renascença”, festivamente realizadas junto à Igreja de Santo Afonso, ele, “White” e seus dois companheiros baixaram no Bar do Dedeu pra tomar a saideira. Já tinham bebido bastante nas “Barraquinhas”, mas, como de hábito, foram esticar no famigerado bar da Rua Jacuí. Chegaram, já bem tarde, foram ao balcão e pediram cerveja. Encheram os copos, fizeram um brinde e engoliram de vez. Em seguida, repetiram o gesto ... E assim por diante.

Sentado numa mesa próxima, discreto, um freguês baixinho tomava sua “Brahma” calmamente, olhando o chuvisco que principiava a cair lá fora. Mais ao fundo, dois jovens disputavam uma acirrada partida de sinuca, gritando alto sempre que um deles encaçapava uma bola.

O “White” encarou o baixinho e, sem ter nem pra quê, foi até sua mesa e falou:-

“- Ô cara, se manda! Já é hora de criança estar na cama! ...”

Seus dois amigos, no balcão, soltaram estrondosas gargalhadas, antevendo o furdunço que o arruaceiro já estava armando. O baixinho da cerveja continuou na sua, fingindo que não era com ele. “White” então se curvou, ergueu o cara pelo colarinho e vociferou no seu ouvido:-

“- E aí, sujeito? Você é surdo por acaso? Estou falando com você, prezado! Se manda!”

O baixinho então, já erguido com o casco da sua cerveja na mão direita, vibrou tamanha garrafada na cabeça do caçador de briga que cacos voaram pra todos os lados!

O “White” soltou um grito lancinante, o sangue escorreu ligeiro da cabeça rachada pela testa, pelo rosto, pelas faces, chegando até o peito e tingindo de vermelho vivo sua camisa branca. Ele soltou o colarinho do rapaz e dobrou os joelhos, quase caindo. Seus acompanhantes o seguraram, ergueram-no pelos braços moles e o Dedeu correu ao telefone pra chamar a polícia.

O baixinho foi ao balcão, deixou uma nota pra pagar sua despesa, ainda deu um “- Boa noite a todos” e saiu tranqüilo, como se nada tivesse acontecido. Naquele instante o caçador perdeu e o dia foi da caça! ...

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B.Hte., 17/03/10

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 17/03/2010
Reeditado em 17/03/2010
Código do texto: T2143736
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