Somos tudo, somos nada...

Vivemos ou passamos pela vida? Talvez seja uma pergunta tão intrigante quanto "qual o sentido da vida?" Afinal, aqui estamos, frutos da relação sexual entre um macho e uma fêmea, nossos progenitores. Aqui estamos num mundo que não chegamos tanto a questionar, mas sim dar respostas e sentenciar verdades. Quem fez tudo que está aí? Ora, foi Deus. E quem fez Deus? Ora foi...Deus (?!). Existe vida fora daqui, deste planetinha perdido no universo? Claaaro que não, absurdo absoluto dizer uma coisa dessas. Afinal, se existisse vida em outros planetas, deixaríamos de ser os filhos preferidos de Deus. Teríamos irmãos, que poderiam ser tais quais como nos mostram nos filmes de ficção científica: cinzas, verdes, cabeçudos, olhos grandes, pele de sapo, ecas de qualquer jeito. Não estaríamos preparados para isso (nem mesmo estamos preparados para os negros, gays, lésbicas, judeus, deficientes físicos ou salamandras).

Que história é essa de dizer que o mundo existe por causa do Big Ben? O que tem que ver aquele relógio em Londres? Ah, não é aquele. Bobagem essa história de expansão do universo a partir de uma explosão há 14 bilhões de anos e que expandiu o universo, o multiverso, galáxias, estrelas, nebulosas, supernovas e os átomos de hidrogêneo. E mais bobagem ainda essa história de que o Big Ben ainda terá o efeito inverso, de comprimir toda a criação, implodir com tudo que está aí: Deus não vai deixar. Se bem que Deus não se mete muito nos nossos assuntos ou não está muito preocupado. O exemplo está aí com tanto terremoto, tanta poluição, guerras, desmatamentos e programas de TV e música ruim. São nossos problemas e temos que resolver, né? Afinal, foi para isso que Ele "criou" o livro arbítrio.

O homem surgiu e criou Deus. E vendo-se só, criou Deus. E tendo criado Deus, acreditou ter sido criado por ele, passando à condição de protegido, escolhido, amado. E viu que isso era bom, Deus era bom. E tendo ele sido criado à sua imagem e semelhante e vice-versa, o homem também começou a se achar bom. E no decorrer dos séculos foi sentindo-se "o bom" em diversas áreas. Os bons no esporte, na medicina, no esporte, na política, na música, no jornalismo, na psicologia, na literatura, na justiça e em todas as demais áreas. Assim como criamos Deus também criamos a tecnologia. E vendo que isso era bom, nos tornamos dependentes da tecnologia, quase toda ela baseada em energia elétrica. Porém, quando nos falta energia elétrica, nada funciona (quando Deus nos falta também dá merda...).

Há quem se orgulhe de ser um ótimo motorista, mas sem carro não tem como mostrar sua destreza. Quem se orgulha de ser bom cantor, sem voz não tem talento. Quem é bom pintor, sem pincéis nada faz. Quem se orgulha de ser um ótimo radialista, nada é sem energia elétrica. Quem se orgulha de ser um excelente médico, nada pode fazer diante desprovido de remédios ou equipamentos. Quems se orgulha de escrever bem, nada pode fazer se não tiver quem o leia. Quem se orgulha de ser um excelente chef de cozinha, nada é sem alimento para preparar seus pratos. Um bom político nada é, se não houver quem vote nele. Quem se orgulha de ser um bom jogador de futebol, nada faz se não tiver uma boa. Quem se envaidece de ser um empresário de sucesso, nada será se ao seu redor só existerem pessoas sem dinheiro. Quem se orgulha de ser um excelente soldado, nada será sem uma arma nas mãos. Nem mesmo o ladrão pode cumprir seu ofício se não tiver nada para roubar de alguém. E nem mesmo o padre ou pastor será tão bom quanto pensa se não houver pessoas que acreditem em suas palavras. Podemos ser tudo, ao mesmo tempo em que somos nada. Pois aquilo que nos orgulhamos de ser, invariávelmente depende de algo ou de alguém. Somos tudo e somos nada ao mesmo tempo. E, afinal de contas, no final das contas só podemos ser mesmo aquilo que somos em essência: seres humanos. Ou temos caráter e bondade ou não temos nada.

Márcio Brasil
Enviado por Márcio Brasil em 17/03/2010
Código do texto: T2143551
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