*As Estações de Maria* (BVIW)

No registro: Maria das Dores. Todos os dias enquanto esperava o metrô pro trabalho na estação da Sé ela refletia: Como alguém poderia ter dores até no nome? Por que não Maria dos Sorrisos? Olhava em volta, estação lotada, e pensava nas aventuras que cada um viveria durante àquele dia de inverno. Teriam dores também?

Aventura? Sim! Tomar um metrô às sete da manhã em São Paulo era sempre uma aventura, e Das Dores tomava dois só pra ir. Sentia dores na coluna e na cabeça, mas seu fardo estava registrado em cartório e ela se conformava. Nos verões mais quentes, a estação parecia um forno humano, mas as gentes continuavam cruas e sós.

Foi num outono, que o vento no quintal não a deixou dormir e ela foi mais cedo pra estação da Sé. Gostava de observar as pessoas apressadas. Quantas daquelas mulheres chamavam-se Maria? Muitas! Quantas delas levantavam tão cedo para lavar os banheiros sujos das porcarias alheias? Teriam eles dores e Marias em seus nomes?

Preferiu pensar nas primaveras. Maria das Dores amava flores, e dessa rima ela gostava. Preferia tulipas, mas achava lindo ver um Ipê Azul. ‘Pra que pensar em tantas Marias e banheiros sujos se tinha flores?’ Primavera era como final de semana: Coisas boas. Era quando ela tinha a liberdade de ser Maria dos Sorrisos.

Mas as estações de Maria passavam, e também passavam seus finais de semana. O que não passava era sua aventura diária na estação da Sé. *'O excesso de gente a impedia de ver as pessoas', e ela temia que esse hábito se fizesse nos momentos fora da estação. Mas, tempo era uma coisa que de fato ela não podia perder. Ela tinha dores, tinha sorrisos, mas não podia pintar suas próprias estações. Afinal, era nada mais que só mais uma Maria na estação da Sé.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 17/03/2010
Reeditado em 18/10/2013
Código do texto: T2143506
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