O Fim Da Linha
No início parecia simples. Estudar a matéria. Organizar uns esquemas em acetatos, debitar os temas, corrigir os testes. Enfrentar a turma não era um paraíso mas os calmantes ajudavam bastante. Tinha folga a meio da semana o que me permitia dormir vinte e quatro horas seguidas. Melhorava alguma coisa. O salário não era mau. Evitava as colegas. Nem me importava que me chamassem gay. Melhor assim. Menos me importunavam. Só desejava que me deixassem em paz. Paz, só isso!
Até que um dia, um aluno espevitado, apanhando-me de costas para o quadro lançou um “Fanhoso!” na minha direcção. Por momentos hesitei. Talvez não fosse para mim. Mas logo outro disse “Pois é, é fanhoso, o Prof.!”.
Nada disse. E eles viram as minhas mãos trémulas e tudo ruiu. “Careca”, “Fuinha”, “Copinho de Leite”, “Enfezado”, “Trinca-Espinhas”, “Zé-Ninguém”. Esses eram os insultos mais frequentes. Por vezes lá voava um palavrão. Insultando a mãezinha. Não que me importasse. Pois de facto, a primeira pessoa a usá-los todos foi a mãezinha. “Come a sopa, Fuinha d’um raio!”, “Raios partam o Trinca-Espinhas, sempre a berrar!”.
Não, mãezinha, mais não, não me vão chamar mais nomes feios, que eu não vou deixar.
Nunca mais! Cansei-me de ser o farrapo humano que tudo permite e só tem como protesto as lágrimas. As minhas cartas não chegaram lá. As queixas a quem de direito pelas faltas de respeito dos alunos. Porque para eles, eu não passo de um Zé-Ninguém-Careca-Enfezado-Filho-da-Puta que não merece viver!
Então vou agir, desta vez vou agir e vou comer as papas na cabeça a todos. Vou dar a volta por cima. Estou em cima da ponte pedonal sobre os carris e, ao longe, passa pela Estação, sem parar, o Alfa-Pendular que vai para o Porto. Não vai parar quando me atirar bem no meio da linha. Apita o comboio, lá vem a apitar, apita o comboio à beira do mar. À beira do mar, mesmo à beirinha, apita o comboio do centro da linha.
Adeus mãezinha, diz lá que não sou corajoso, agora, diz!
No início parecia simples. Estudar a matéria. Organizar uns esquemas em acetatos, debitar os temas, corrigir os testes. Enfrentar a turma não era um paraíso mas os calmantes ajudavam bastante. Tinha folga a meio da semana o que me permitia dormir vinte e quatro horas seguidas. Melhorava alguma coisa. O salário não era mau. Evitava as colegas. Nem me importava que me chamassem gay. Melhor assim. Menos me importunavam. Só desejava que me deixassem em paz. Paz, só isso!
Até que um dia, um aluno espevitado, apanhando-me de costas para o quadro lançou um “Fanhoso!” na minha direcção. Por momentos hesitei. Talvez não fosse para mim. Mas logo outro disse “Pois é, é fanhoso, o Prof.!”.
Nada disse. E eles viram as minhas mãos trémulas e tudo ruiu. “Careca”, “Fuinha”, “Copinho de Leite”, “Enfezado”, “Trinca-Espinhas”, “Zé-Ninguém”. Esses eram os insultos mais frequentes. Por vezes lá voava um palavrão. Insultando a mãezinha. Não que me importasse. Pois de facto, a primeira pessoa a usá-los todos foi a mãezinha. “Come a sopa, Fuinha d’um raio!”, “Raios partam o Trinca-Espinhas, sempre a berrar!”.
Não, mãezinha, mais não, não me vão chamar mais nomes feios, que eu não vou deixar.
Nunca mais! Cansei-me de ser o farrapo humano que tudo permite e só tem como protesto as lágrimas. As minhas cartas não chegaram lá. As queixas a quem de direito pelas faltas de respeito dos alunos. Porque para eles, eu não passo de um Zé-Ninguém-Careca-Enfezado-Filho-da-Puta que não merece viver!
Então vou agir, desta vez vou agir e vou comer as papas na cabeça a todos. Vou dar a volta por cima. Estou em cima da ponte pedonal sobre os carris e, ao longe, passa pela Estação, sem parar, o Alfa-Pendular que vai para o Porto. Não vai parar quando me atirar bem no meio da linha. Apita o comboio, lá vem a apitar, apita o comboio à beira do mar. À beira do mar, mesmo à beirinha, apita o comboio do centro da linha.
Adeus mãezinha, diz lá que não sou corajoso, agora, diz!