PERTO DA ESTAÇÃO DO METRÔ (BVIW)

Ao atravessar a movimentadíssima avenida no bairro do Jabaquara, parei na ilha. Quando o sinal abriu, continuei como todo mundo, mas vi que um garoto de seus dez anos ali permaneceu. Não sei por que, antes de entrar na estação, olhei para trás. Lá estava ele sozinho. Fiquei intrigada. Voltei.

Ao me aproximar, percebi que ele chorava. Não era um menino de rua, vestia uniforme do Colégio Arquidiocesano, com a mochila nas costas. Deve estar perdido, pensei, e morrendo de medo! Se eu falar, ele vai se assustar... Mas não me contive, arrisquei. Antes de mais nada, eu disse que tinha um filho assim como ele, podia confiar. O que fazia ali?

Esperava a mãe, como de costume. Todos os dias ele vinha da escola de metrô e ela o aguardava na ilha. Mas naquele dia não estava... Recomeçou a soluçar. Eu, com lágrimas nos olhos e o coração apertado, o abracei. Calma, calma... Por que não telefonamos pra ela?* Não adianta, já fui até em casa, não tem ninguém lá!

_ Sabe que tive uma idéia? Vamos voltar pro Colégio! Ele concordou e nos encaminhamos para a estação. Quando lhe estendi um bilhete, agradeceu, tinha o seu. Durante a viagem sentou-se ao meu lado e foi caladinho, mas percebi que sentia-se melhor, parecia mais calmo.

Na saída, bem em frente da escola, quando subíamos a escada vi duas mulheres lá em cima que logo começaram a gritar. Uma, de alegria. A outra, de braveza. A mãe logo puxou o garoto pelo braço e se pôs a esbravejar. A outra não parava de dizer: Ai, que bom! Graças a Deus!... Era a avó.

Percebendo que eu olhava a cena, ela contou que o menino havia sumido, justo naquele dia da semana em que iam buscá-lo de carro...

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(*) ainda não havia celulares

N.A. Texto reeditado, publicado no Recanto das Letras em março de 2009.