PALAVRAS SOBRE O SONETO

Permito-me umas palavrinhas sobre o soneto, tão perseguido nos novos tempos, tão criticado pelo intelectual da poesia moderna e pelos teórícos da "contemporaneidade", tão estigmatizado pelos que se supõem donos da verdade poética. Essa crítica, aliás, alcança, no seu mal acolher - a poesia tradicional, de matéria e rima. Parece que a censura vem mais das áreas incapazes de dominar o ritmo métrico, de trabalhar a forma fixa da poesia. Falta-lhes perícia e paciência, para usar as palavras de Bilac. E se insurgem contra o belo dizendo-o velho, sem perceber que o belo é sempre atual, porque se renova em si mesmo, aliás, porque é eterno. E nem ao menos reflete, esse azedume crítico, sobre o fato de que o soneto é universal, não brasileiro e, quer seja originário da Itália, quer nascido em França, todas às literaturas o cultivam, certamente porque todos os povos o apreciam. Evidente que não defendo a falta de poesia no soneto. no poema métrico. Há realmente muita gente que os arruma sem um mínimo de luz e mesmo quem os componha de pé quebrado, sem a pausa métrica que lhes dá sonoridade e beleza. Isso, entretanto, ocorre também com a poesia moderna e descompromissada das regras clássicas. Aqui, como ali, há bons poetas, inspirados, sonoros e até com vôo de gênio, e os há pobrezinhos. Aliás, a guerra ao soneto não é nova, já a ela se referia Bilac. E os poetas medíocres que cometem heresias contra o soneto, vêm de tempos velhos.

Não me considero isso nem aquilo. Sou poeta, como tantos, de produções razoáveis e produções medíocres, de trabalhos bem realizados e trabalhos mal produzidos, de momentos felizes e momentos desafortunados. Sinto-me gratificado porque sou poeta. Quem se der ao trabalho de ler os meus escritos poéticos novos e velhos, verá que comecei pelo ritmo métrico em redondilha maior, que exercito com muito agrado, enveredei pelo moderno, dominei todas as formas, gosto de alexandrino perfeito. De tanto trabalhar a poesia, de tanto ter paciência para alcançar o belo, acabei sendo sonetista e, me desculpem, não sou dos piores. Amo o soneto tenho-o como o supra sumo da lira. De vez em quando procuro introduzir uma novidade, alguma variação. De forma que há, aqui, deles sem o rigor da rima nas quadras e tercetos entre si e até, propositalmente, um sem rima, três com variação rítmica, apresentando versos de dez e de seis sílabas métricas. Creio que nisto não desmereço o soneto, desculpem os mestres, valorizo-o antes, tendo como livre o poder de imaginar e de criar, de renovar.

E acho que falar mal do soneto é recusar o eterno na poesia, diria na literatura universal, antiga e moderna. Tenha o crítico um pouco de paciência para ler os bons sonetos e ignore os ruins - prestará um serviço às Musas e ao cabo se convencerá de que este velho não é torto, antes confronta-se com o moderno.

João Justiniano da Fonseca