Os Papas: você sabia?

                      Que Deus vos perdoe pelo que fizestes!

                                João Paulo I - ao ser eleito

        Estou relendo livros que falam  dos nossos estimados Papas, trazendo, ainda fresco na memória, minha recente visita ao Vaticano. Na Praça Petrina fiquei, durante aproximadamente três horas, com o nosso Bento, que comparecia a audiência pública, numa manhã vaticana de sol encabulado.
        Do meu canto - eu estava sozinho no meio de milhares de almas ruidosas - pude medir o prestígio de um Pontífice.  Em que pesa ser ele, naquele momento, o papa Ratzinger, de sorriso tímido e gestos comedidos; quase programados.
        Bem diferente do Papa Karol que vi - por pouco lhe não tocando às mãos - na minha primeira visita ao túmulo de São Pedro, idos de 1980. 
        Naquele ano, o Papa Wojtyla, com um pouquinho mais de dois anos de reinado, já atingia surpreendentes índices de popularidade; índices nunca, até então, por outro pontífice alcançado; nem pelo bom João XXIII.
        Dei muita sorte porque, caindo um toró sobre Roma, a audiência papal não se deu, como de costume, na Praça de São Pedro. A chuva forte levou a cerimônia para o interior da Basílica, tirando o Papa da sua janelinha, no alto do Palácio Apostólico.
        João Paulo II desfilou por entre seus admiradores esbanjando elegância e e exibindo o corpo sarado de uma ex-atleta.

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        Me divirto muito lendo o que se diz e o que se escreve sobre os pontífices, desde Simão Pedro. Compro  livros que falam bem dos papas e também os que mostram  seus erros e deifeitos. Neste exato momento, estão sobre minha mesa de cabeceira
A vida sexual dos papas e O mundo secreto dos papas - De São Pedro a Bento XVI.
       
 Certa feita, respondi a um padre intransigente e tradicionalista, que os livros falando mal dos papas não me espantam e disse por quê. Falo sobre isso oportunamente. 
        Deixando o reverendo pasmo, assegurei-lhe, depois de um papo por ele considerado herético, que jamais achei legal chamar o papa de Santo Padre ou Santidade.
        O papa Fulano me basta, preferindo, frisei, venerá-lo depois de sua canonização, o que, nos dias de hoje, não é difícil de acontecer. 
        Disse mais que ainda admito chamá-lo de Pontífice, levando em conta a etimologia dessa palavra:
Pontífice vem de Pontifex, construtor de pontes. O papa seria (ou é) um construtor de pontes ligando o Homem a Deus.

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        Mas vamos ao que me proponho a oferecer ao dar a esta crônica este enigmático título:
Os Papas: Você sabia?  
        
 A rigor, nada de novidade para os que, através de leituras e estudos, entram na intimidade da vida dos sucessores de Pedro. Algumas dessas "curiosidades" , entretanto, merecem ser rememoradas, porque interessantes.
        Você sabia, por exemplo, que o papa Alexandre I (105-115) determinou que a hóstia fosse feita com pão ázimo?; que o papa Higino (136-140) instituiu os padrinhos no batismo dos recém-nascidos?; que o papa Sirício (384-399) foi o primeiro a adotar o título de "papa"? que os papas começaram a usar o branco a partir de 1566, com a eleição de Pio V?
        Que o papa Nicolau II (1059-1061) decidiu que os papas seriam eleitos pelos cardeais?; que o papa Urbano VI (1261-1264) instituiu  a festa de Corpus Christi?; que o papa Júlio II (1503-1513) criou oficialmente a Guarda Suíça?; que o papa Gregório XIII (1572-1585) determinou a adoção do calendário Gregoriano?
        Que o apelido de João Paulo II era Lolek?; que Pio XII tomava um copo de vinho todos os dias e nas suas viagens levava uma garrafinha dessa bebida debaixo da batina?; que os papas, se quiserem, podem se aposentar? Está previsto no cânone 332, Código de Direito Canônico.
        Interessante, também, é o que o escritor Eric Fratini, no livro acima citado, escreve: que uma freira, Soror Pascualina, auxiliar de Pio XII durante 40 anos, tinha um excepcional prestígio no Vaticano e que por isso era chamada de Papisa;  que Paulo VI chegou a fumar dois maços de cigarros por dia; que Pio XII era hipocondríaco; 
        Que João XXIII dormia somente três horas por noite; que Júlio II, pela sua vida luxuosa, levou Lutero a fundar a Igreja Luterana.
        Nino Lo Bello, in O incrível livro do Vaticano e curiosidades papais,  recorda que tivemos dois papas chamados João XXIII! 
        O primeiro, Baldassare Cossa, reinou de 1410 a 1415. Tiraram-lhe o báculo e a tiara, depois de ser acusado de incesto, adultério, corrupção e homicídio. Excluíram-no da lista oficial dos papas.
        O segundo foi o virtuosíssimo Ângelo Roncalli, sucessor de Pio XII. Por que ele escolheu este nome, há muito me deixa inculcado. Logo o "Bom papa"?

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        Para concluir,  a nunca definida origem da palavra Papa. Versões as mais diversas circulam por aí.
        Eric Fratini escreve, que "existem três possíveis origens ou etimologias: a palavra Papa como derivação da palavra grega pappas ou padre; segundo algumas fontes , a palavra Papa corresponde à sigla das palavras Petri Apostoli Potestatem Accipiens (O que recebe a potestade do Apóstolo Pedro), e,  por último, a origem de Papa como a união das duas primeiras sílabas das palavras Pater e Pastor (Padre e Pastor)".
        Acrescento mais uma versão, que li não sei onde. A palavra Papa seria uma homenagem ao primeiro Pontífice - Petrus Apostolus, Pinceps Apostolorum.
         Acabei de escrever esta crônica, e me perguntei: ao transcrever tudo isso não estarei simplesmente ensinando o Padre-Nosso a vigários?  Pode ser.
        Mas como dizia o saudoso Frei Paulo Kleinken, meu professor de latim no seminário, Quod abundant non nocet, ou seja, "O que é abundante não faz mal", uma tradução livre dessa conhecidíssima máxima latina.   
         


   
                   
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 16/03/2010
Reeditado em 22/03/2010
Código do texto: T2142008