VIAGEM
Talvez seja o efeito da cafeína acumulada dos tantos cafés que já tomei hoje. Quem sabe dos resquícios do malte dos whisky´s que bebi ontem. Quem sabe da cevada das cervejas de antes de ontem. Ou ainda das viagens no sabor dos beijos, do calor dos abraços, das carícias e dos afagos que tenho vivido; já não sei direito. Sei somente que tenho uma vontade louca, desvairada e quase impossível de adentrar no coração e na mente de um poeta, pegar carona nas suas viagens, na sua inspiração, percorrer as imagens que se fazem na sua criação, só para desvendar os segredos dos seus inventos e assim poder enxergar com seus olhos, sentir com seu coração, perceber com sua intuição, todas as suas emoções.
Tenho esse desejo louco e torto de entender a estratégia logística das viagens de um poeta. Como ele viaja, se decide onde aporta, ou onde aterriza; se suas viagens são programadas, com roteiro previsto, ou apenas monta na garupa do destino e chega onde o tempo por si só decide. Queria saber se os sonhos e lembranças dos poetas têm asas, o tamanho delas e se são impulsionadas ou não por turbinas supersônicas que ultrapassam a velocidade da luz ou pensamentos, travestidos de sonhos.
Tenho um desejo quase febril de um dia me esconder sorrateiramente no porão da imaginação de um poeta e sem querer saber seu destino, ficar espreitando suas manobras, suas idas e vindas, pelos mares dos desejos contidos nos seus poemas, no céu salpicado de sonhos e lembranças dos seus devaneios, nas profundezas das trevas por aonde vai descarregando seu infortúnio ou mesmo pelas noites horrendas de escuridão e tempestades por onde vagueiam seus medos.
Um dia ainda vou vaporizar e me infiltrar na sua bebida e assim – quem sabe – eu consiga me inebriar e disfarçadamente consigo viajar, como se fosse o próprio e ai sim saberia de tudo e contaria a todos plagiando todos os seus versos.