A "CHUVA MATOU" 52 EM ANGRA

Crônicas da Natureza

*ghiaroni rios

A topografia de alguns terrenos indica sérios riscos, até mesmo para o olhar de um leigo.

Muitos questionam a discricionariedade ao se estabelecer, através do marco legal, que até 30 metros da margem de um pequeno riacho, ou encosta com mais de 45 graus de inclinação, por exemplo, são Áreas de Proteção Ambiental (APP), non aedificandi, ou seja, locais que não admitem (pela lei dos homens) a intervenção humana.

Indaga-se sobre essa “administração” dos recursos naturais com números e medidas (sem ser Deus) ante tanta diversidade de ecossistemas.

Paciência, é o possível! O homem é inventivo, tenta equacionar, reduzir a imensa teia da vida a esquemas aplicáveis, para a proteção e mesmo penalização dos irresponsáveis que ainda “usam” os recursos naturais como sua propriedade.

Mas o antropocentrismo prevalece, admito. Os bens naturais são para nosso deleite, pensamos. Nossos mais honestos pesares às famílias das vítimas, aqui simbolizadas na doçura da Yumi, por essa abordagem, digamos, ambiental. Será que ela anteviu sua breve passagem neste plano, ao escrever sua vontade de ver suas cinzas espalhadas (no ar e no mar) naquele recanto maravilhoso da Ilha Grande? Desígnios divinos que não me atrevo a comentar.

As normas protetivas do meio ambiente, no Brasil, são bem estatuídas, mal administradas e quase nada respeitadas.

Encostas íngremes sempre foram, pelo menos no papel dos Planos Diretores, vetadas pelos urbanistas para a ocupação. A negligência do poder público é meio que “conivente” ao não fiscalizar e impedir construções em áreas de alto risco. Brasil!

A cobertura vegetal ainda é sim a melhor garantia de manutenção da estabilidade em lugares inclinados. Só que não é garantia absoluta, como ficou claro, dolorosamente, no caso de Angra dos Reis.

Aos “descamisados” que se pinduram com seus barracos em áreas de alto risco, com numerosa prole, dou-lhes grande desconto. Não têem opção de adquirir terrenos estáveis, de maior preço. Pagam o pato. Sobre nossas políticas públicas de desenvolvimento não comentarei aqui.

Que a Yumi, em seu novo plano, nos ilumine na luta renhida para “salvar” e proteger recursos naturais, dadivamente recebidos de gerações passadas, como as inúmeras enseadas da região de Angra.

dedicado a: Yumi;

inspirado em artigo de: Apolo H. Lisboa

*o autor é ambientalista/escritor

ghiaroni rios
Enviado por ghiaroni rios em 16/03/2010
Código do texto: T2141749
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