O "Estalo" de Vieira
Meu pai vivia me lembrando que a escola do meu tempo era muito fraca, decadente mesmo. E me afirmava que já na sua época, o estudo era bem inferior ao do pai dele, o velho Sôtoviro. Portanto, tinha muita pena dos meus estudos e, por isso, procurava sempre me auxiliar, suplementando o que eu não aprendia no colégio.
E, claro, logo abusei desses seus suplementos, indo pouco aos livros, fazendo mil perguntas o dia inteiro. Certa manhã, estava eu conversando com meu pai na sala de nossa casa e dissertava eloqüentemente sobre determinado assunto, que já não me lembro qual foi. O fato é que estava com “a corda toda”, dando detalhes sobre o tema e ainda por cima fazendo diversas citações e até tirando algumas conclusões próprias, imaginem só! Estava tão à vontade, como se fosse um mestre, e explicava com riqueza de detalhes e com tal segurança, que, de repente, meu pai, que ouvia tudo atentamente, sem dar uma mínima palavra, resolve me interromper e me pergunta de chofre: “o que aconteceu, deu um estalo de Vieira em você hoje?”
Surpreso com a pergunta do velho, respondi com outra pergunta: – afinal, o que é isso, o que significa estalo de Vieira? Veio o necessário esclarecimento: - é que você nunca falou tão bem sobre um assunto como no dia de hoje e logo suspeitei que estivesse ocorrendo o chamado “estalo” de Vieira na sua cabeça.
Em seguida, me botou a par da história, não se sabe se verdadeira ou falsa, que o Pe.Vieira era muito “burro” e que suplicava à sua santa de devoção, a Virgem Maria, para torná-lo inteligente. Diz a lenda, que em certo dia, o autor dos Sermões, depois de ter batido com cabeça, acordou com uma Inteligência privilegiada.
Meu pai, que foi um intelectual da pesada e ao mesmo tempo um grande gozador, aproveitou esse meu dia de rara inteligência e acabou por me dar uma aula sobre o notável padre Vieira, aliás como sempre fazia. Muito antes da era da internet, papai já era o meu “Google” particular. Mais tarde, soube de outra versão a respeito do grande orador. Ele teria rezado tanto à Virgem Maria, para ter uma inteligência aguda, que , de repente, sentiu um estalo tão forte na cabeça, “que lhe parecia que morria “, segundo as próprias palavras do padre.
Segundo os historiadores essa expressão foi tão fortemente usada no Brasil, e creio que até hoje, que acabou permeando nossa cultura, fazendo com que nós brasileiros, por muito tempo, ao invés do esforço, da dedicação, ficássemos esperando pelo famoso “estalo”, que acabava resolvendo qualquer situação.
Hoje, tendo perdido meu querido pai, dou razão a quem disse que em qualquer empreitada da vida, temos que transpirar muito e que a proporção é sempre essa: “90% de transpiração e apenas 10% de inspiração. Mas notem bem: embora a inspiração seja só de 10%, ela é muito necessária, pois esse clique, essa pequena pitada de inteligência é que vai fazer a diferença. E se vocês pudessem me ver neste exato momento em que faço esta modestíssima crônica, diriam todos - como sua o moço! A transpiração dele é de 110% e zero de inspiração.
E todos torceriam caridosamente para que eu batesse com a cabeça, mesmo que de leve, na cabeceira da cama, durante a noite, para o agrado e bem geral de todos os leitores, ávidos em ler boas obras e artigos mais ou menos inteligentes.
E, claro, logo abusei desses seus suplementos, indo pouco aos livros, fazendo mil perguntas o dia inteiro. Certa manhã, estava eu conversando com meu pai na sala de nossa casa e dissertava eloqüentemente sobre determinado assunto, que já não me lembro qual foi. O fato é que estava com “a corda toda”, dando detalhes sobre o tema e ainda por cima fazendo diversas citações e até tirando algumas conclusões próprias, imaginem só! Estava tão à vontade, como se fosse um mestre, e explicava com riqueza de detalhes e com tal segurança, que, de repente, meu pai, que ouvia tudo atentamente, sem dar uma mínima palavra, resolve me interromper e me pergunta de chofre: “o que aconteceu, deu um estalo de Vieira em você hoje?”
Surpreso com a pergunta do velho, respondi com outra pergunta: – afinal, o que é isso, o que significa estalo de Vieira? Veio o necessário esclarecimento: - é que você nunca falou tão bem sobre um assunto como no dia de hoje e logo suspeitei que estivesse ocorrendo o chamado “estalo” de Vieira na sua cabeça.
Em seguida, me botou a par da história, não se sabe se verdadeira ou falsa, que o Pe.Vieira era muito “burro” e que suplicava à sua santa de devoção, a Virgem Maria, para torná-lo inteligente. Diz a lenda, que em certo dia, o autor dos Sermões, depois de ter batido com cabeça, acordou com uma Inteligência privilegiada.
Meu pai, que foi um intelectual da pesada e ao mesmo tempo um grande gozador, aproveitou esse meu dia de rara inteligência e acabou por me dar uma aula sobre o notável padre Vieira, aliás como sempre fazia. Muito antes da era da internet, papai já era o meu “Google” particular. Mais tarde, soube de outra versão a respeito do grande orador. Ele teria rezado tanto à Virgem Maria, para ter uma inteligência aguda, que , de repente, sentiu um estalo tão forte na cabeça, “que lhe parecia que morria “, segundo as próprias palavras do padre.
Segundo os historiadores essa expressão foi tão fortemente usada no Brasil, e creio que até hoje, que acabou permeando nossa cultura, fazendo com que nós brasileiros, por muito tempo, ao invés do esforço, da dedicação, ficássemos esperando pelo famoso “estalo”, que acabava resolvendo qualquer situação.
Hoje, tendo perdido meu querido pai, dou razão a quem disse que em qualquer empreitada da vida, temos que transpirar muito e que a proporção é sempre essa: “90% de transpiração e apenas 10% de inspiração. Mas notem bem: embora a inspiração seja só de 10%, ela é muito necessária, pois esse clique, essa pequena pitada de inteligência é que vai fazer a diferença. E se vocês pudessem me ver neste exato momento em que faço esta modestíssima crônica, diriam todos - como sua o moço! A transpiração dele é de 110% e zero de inspiração.
E todos torceriam caridosamente para que eu batesse com a cabeça, mesmo que de leve, na cabeceira da cama, durante a noite, para o agrado e bem geral de todos os leitores, ávidos em ler boas obras e artigos mais ou menos inteligentes.