QUE SUSTO !!!
QUE SUSTO !!!
No jardim da pracinha que fica ao lado da minha casa há um banco de granito. Está localizado à sombra, logo abaixo da minha janela. Quase sempre via-o vazio do alto da janela do meu quarto. Aquela praça tinha histórias para contar. O olhar de cobiça dos moços desviados dos bons costumes, consumidores de drogas ilícitas, punha em polvorosa belas e inocentes mocinhas. Por razões óbvias, poucas vezes o banco era ocupado. E, quando isso acontecia, o ocupante ou a ocupante desfazia-se em olhos pelos arredores, na presunção da aproximação de algum desses jovens.
Naquele dia, de lindo e exuberante sol, vi sentar-se ali minha amiga e objeto dos meus mais íntimos e doces sonhos. Resolvi fazer-lhe uma surpresa. Nem me alertou a mente do mau uso que os odiosos personagens das drogas proibidas faziam da praça. Desci até o passeio. Dirigi-me mais para o centro da praça, por trás do banco de granito, que servia de apoio e descanso à meiga e formosa menina que, em silêncio e despreocupada, estivesse, talvez, dando férias ao pensamento. Trazia os longos e negros cabelos presos em dois rabinhos por graciosas “maria-chiquinha”. De seu pescoçinho de ébano, subia suave e femíneo aroma. Não resisti. Com os lábios ardentes de desejo e os dedos fazendo-me cócegas para acariciar aquela pele sedosa, chamustanejei-lhe(1) uma leve e divina carícia na pele desnuda, eriçando seus pelinhos.
Como que movida por uma mola propulsora que houvera sido liberada, de um salto, deixou audível um doce gritinho de susto, deixando o banco vazio. Mas, logo, ao reconhecer o malvado agressor do seu inefável pescoçinho, recompôs-se do susto, convidando-me, com um delicioso sorriso, a sentar a seu lado. Por um nada contracenei um lúgubre enfarto, em quem nada mais quis, que fazer um mimo agradável.
(1) CHAMUSTANEJAR – pestanejar, pentear de leve, chamuscar, roçar levemente.