Sangue novo e bom

Leve o seu sangue para especulação ao laboratório de análises clínicas. Deixe que examinem. Havendo alteração o sangue é retirado novamente. Foi o que ocorreu. Surgirá um nome técnico com um nome esquisito de imundice para reavaliar. Nos homens poderá ser um pouco maior e que somente o dobro indica algo grave. É o que você contará em casa porque sabe que haverá novo desembolso. Depois as dores nos pés... Nas juntas... Somente quando acorda o que significa que a longa caminhada para o trabalho descarta o sintoma. Não chega a ser um inferno, mas sim uma duvida. Você olha para o liquido precioso e percebe o vazio da náusea. Ele não mais lhe pertence e será especulado em troca de alguns caraminguás de um modo ou de outro. Afinal o sangue O - negativo é o sucesso do positivismo.

Deixamos então o sangue lá pela segunda vez. Poderíamos estar sendo presididos por uma doença contagiosa que logo mataria a atendente loira, além do receptador do líquido vermelho num mês pacato de julho. Ele não se importa. Ele quer saber o que querem saber. Se você procura ácido úrico terá ácido úrico e se você é portador silencioso de HIV, gripe porcina ou qualquer patologia idiota jamais saberá. Por que não perguntou antes? Não somos números inteiros, somos parcelas de valores tabelados.

Você que é do sangue tipo O - negativo ficará surpreso nestas ocasiões. Você é generoso universalmente podendo doar sangue para todos. Simplesmente todos os avarentos da terra sendo desse tipo sanguíneo ganham uma medalha da natureza tosca que não se mistura facilmente. Você poderá ofertar de acordo com a livre escolha o caldo grosso para todos. Surpresa! Mesmo sendo o mais mesquinho dos homens que já pisotearam a crosta terrestre.

Há muita falta de sangue neste país porque ele costuma jorrar estupidamente. O elevado nível de ruína impulsiona o motor da sordidez. Queremos apenas viver na fase da coleta primitiva na terra das bananeiras, dizem. Os que trabalham para isto acabam com raiva e assim os ciclos de prestação de serviços acabam em ódio negativo acumulado universalmente.

Talvez fosse bom presentear com passe livre esse momento que é ser importante sendo negativo. Um dos raros momentos em que ser negativo vale o azar de ser generoso sem a mesma compensação. Ó negativo!

Quem sabe fosse importante abrir exceção na especulação. Todo tipo de “O negativo” receberia passe livre nos laboratórios, assim sempre haveria sangue de qualidade disponível nos centros de coleta. Inclusive de O - negativo para O - negativo. O doador poderia dispensar meio litro de sangria de tempos em tempos para garantir o passe livre numa hora de desconfiança. Livre para doar repentinamente sem hepatite ou imundices que infestam o mundo. O hemocentro agradeceria e os demais tipos sanguíneos engoliriam um protesto calado como uma grosseira inveja.

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