O cotidiano arranhado em vinil

As pessoas correm, o mundo corre,

os animais espantados, escondem-se.

Os países guerreiam, os armados gladeiam-se

e os famintos não entendem.

Os maiores pib's do globo cientificam suas riquezas,

os menores aculturam a pobreza,

como uma forma de alastrar o seu poderio.

A classe carente sorri, pois não entende

a função de ser vil.

"O que der tá bom, seu moço.

Sou o coração do povo, e aqui

com o que tem, comem todos."

É o bolsa escola, é o bolsa familia, é o bolsa formação,

teria para os legisladores até uma pequena sugestão,

que ao invés de criarem tantos incentivos de inserção,

acabem por solucionar o que de mais carente temos,

a educação.

Tendo em vista que o único bolsa

que funciona de fato é o "bolsa-sacola", repleta de

ilicitudes, que enchem de dor os ombros daqueles

que respondem por este país,

que mais parece uma marola.

Brasil, meu Brasil, se um dia fores o que rege

a sua canção, serás imponente frente outra nação.

Se um dia o seu povo, que de tão formoso sente

o rachar desse chão nos pés da sua gente,

conseguir ao invés de ser só carnaval lá fora,

ser também verso, prosa e amora, serás imbatível,

invencível, intransponível, afora.

Por enquanto, permaneçamos a assistir

o que de fato é sucesso entre os subdesenvolvidos,

é o Mr. Smallville, que beberá da excelente laranja produzida

no quintal do sacy pererê e depois protegerá a sua indústria

encarecendo os cítricos importados do pobre preto da floresta...

As pessoas correm, o mundo corre,

os animais espantados, escondem-se.

Os países guerreiam, os armados gladeiam-se

e os famintos não entendem...

A história se repete,

e eu já cansado de tantos

monólogos passarei a palavra

para alguém que se faz ouvir

num raio maior que o meu,

o mestre Veloso, quando diz:

"Será, será, que será?

Que será, que será?

Será que esta

Minha estúpida retórica

Terá que soar

Terá que se ouvir

Por mais zil anos..."