Tenente Lucena, o general do folclore
Sou um apaixonado admirador das personalidades que têm seus nomes destacados nas artes e ciências, na cultura e na política de minha terra, a centenária Itabaiana, sobretudo os que dedicaram suas vidas na defesa da dignidade das pessoas. É impressionante como Itabaiana deu ao mundo figuras tão invulgares, homens de espírito engrandecido e inteligências notáveis.
Um deles chama-se João Emídio de Lucena, que ficou conhecido como Tenente Lucena. Acabei de ler sua biografia, escrita pelo filho Piragibe de Lucena em edição do autor, de março de 1986. O menino que nasceu em seis de abril de 1912, um dia de sábado, na vilazinha de Campo Grande, tornou-se um dos maiores folcloristas do Brasil. Predestinado e obstinado, o garoto trilhou uma vida de amor pela cultura do seu povo, com tal sentimento de bondade e benevolência que transformou-se em ideal, perpetuando-se no mundo por lutar pelo bem e inspirar a juventude a estudar e se dedicar às tradições populares.
O livro de Piragibe informa que Tenente Lucena, como ficou conhecido, era filho de Josias e Eulária. Era primo segundo do grande sanfoneiro Sivuca. Em 1918, a família foi morar em São João do Sabugi, Rio Grande do Norte. Em 1928, João Emídio de Lucena entrou para a banda de música local, tocando corneta, depois piston e trombone. Em 1933, sentou praça como soldado voluntário no 22º Batalhão de Caçadores, passando a ser soldado músico de terceira classe. A partir daí, cresceu como músico, adotando para sua vida o ideal de servir ao próximo, notadamente às crianças. Fundou corais infantis e abrigos de menores carentes. Foi sócio fundador da Orquestra Sinfônica da Paraíba.
Em 1957, foi transferido para a reserva do Exército no posto de segundo tenente. Foi um dos maiores folcloristas do Brasil, autêntico representante da cultura popular paraibana e nordestina. Hoje é nome de escolas, ruas e conjuntos folclóricos da Paraíba e Rio Grande do Norte.
Com seu grupo “Terra Seca”, preservou as tradições, usos e artes do povo nordestino, pesquisou e recriou danças populares, em valiosa contribuição ao folclore. Como humanista, despendeu todos os esforços para recobrar a auto-estima e dar dignidade aos párias, prostitutas, meninos abandonados e outros viventes à margem do meio social.
Faleceu em João Pessoa no dia 09 de julho de 1985. Itabaiana, sua terra natal, deveria reverenciar mais sua memória. Um homem que se dedicou à arte e à cultura, inclusive ao cinema. Fo ator nos filmes paraibanos “O salário da morte”, “Bagaceira”, “Fogo Morto” e “A Canga”. O dramaturgo José Bezerra Filho assim se referiu ao grande itabaianense: “Não acredito em vida após a morte, mas tenho a impressão de que tanta bondade, tanta fortaleza juntas não devem ter se acabado assim, sem mais nem menos. Pra mim Tenente Lucena está por lá nos outros mundos, dançando o Camaleão com os anjos, ensinando aos povos daquelas paragens as cantigas de roda que cantava com as crianças, ele também criança no espírito, quando estava do lado de cá”.
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