¿CUÁL ES SU APELLIDO?
Conheço a personagem desta crônica desde 1968, quando fomos colegas na primeira série ginasial no Colégio Estadual, hoje, “Emir de Macedo Gomes”.
Na época, nenhuma de nós duas imaginávamos que nos tornaríamos professoras de Português, mas foi isso que aconteceu.
Refiro-me a uma das docentes mais amadas de Linhares. Ela é filha de Dona Geralda e do Sr. Wilson, esposa do Edson, mãe do Sandro, do Edson Júnior e da Karollyne, sogra do Rômulo, e avó dos queridíssimos Murilo e Lara.
Apesar de ambas já termos feito vários cursos, recentemente, resolvemos entrar numa pós-graduação diferente, a de “Novas Competências Docentes”. Num dos módulos nós estudamos “Artes Cênicas”, pois cremos que o bom professor precisa saber propor atividades lúdicas, e, também, comunicar-se com o corpo.
Foi numa dessas aulas que dela ouvi uma história, ocorrida em Havana, por ocasião da defesa de sua dissertação de mestrado. Segundo nossa heroína, tão logo ela e suas amigas, Marinete Bianchi Canzian Batisti e Ângela Cristina Altoé, chegaram à capital cubana, fizeram questão de afixar na porta do quarto um calendário, que permitisse, a cada dia, riscar os dias restantes. Algo como se fosse uma contagem regressiva.
No dia da volta, já aliviadas por terem conseguido os títulos de mestres, a ânsia e a saudade dos familiares eram tamanhas, que as três e suas respectivas bagagens estavam posicionadas na porta do hotel, desde as 7horas da manhã para aguardar o ônibus que as levariam para o aeroporto às 19horas. Enquanto isso, seus demais colegas aproveitaram para ir às praias e fazer compras em Havana.
Quando o veículo chegou para pegá-las, elas e suas malas foram as primeiras a serem acomodadas, mas, consequentemente, foram também as últimas a deixarem o carro e a chegarem ao balcão para o check-in.
Então aconteceu o inimaginável: overbooking! Em bom português: não havia mais lugar para elas naquele vôo e, portanto, o jeito era tentar embarcar na noite seguinte. Diante dessa notícia, o choro foi tão convulsivo, que cada amigo mais chegado se prontificou a ceder seu lugar para nossa heroína, mas ela abanava a cabeça recusando, pois, naquela altura, estava convencida de que tudo era um propósito de Deus para salvá-la, pois, certamente, “o avião iria cair”.
Na noite seguinte, na hora do embarque, pediram-lhe o papel que é dado a cada visitante quando entra no país, e que deve ser devolvido no retorno. Ocorre que ela simplesmente nem se lembrava de que diabo de papel as pessoas falavam.
Isso foi suficiente para que caísse no choro de novo, mas desesperada resolvesse abrir suas bagagens e futucar tudo até encontrar a maldita folhinha, bem amassadinha e perdida no fundo de uma mala.
Uma vez no avião, a aeromoça lhe pediu: ¿Cuál es su apellido? Ainda atordoada por todos os impasses anteriores, ela abriu o “buá...“ de novo e queixou-se à Cristina: “O que é isso, meu Deus? Até em Cuba querem saber meu apelido?” Nesta hora, suas amigas começaram a rir, pois a pergunta feita pela moça significa: “Qual é seu sobrenome?” Ao saber disso, também ela riu.
Se você ainda não matou a “charada”, saiba que essa é uma homenagem à Maria da Graça Siqueira Pereira, nossa querida “Tia Kita”, alguém por quem tenho um imenso carinho e profunda admiração. Isso porque ela é uma mulher de garra, para quem o trabalho nunca meteu medo e o excesso dele nunca a impeliu a ser injusta ou mal educada com quem quer que seja.