Ciscarei as cinzas...
Águida Hettwer
 
  
 Rodeia-me o pensamento, a febre do sentir lateja. Perambula em ruas ocas de gente vazia. Em passos ensaiados, cronometrados pela rotina. Agasalham a nudez da alma, num falso riso. Tropeçam no silêncio, encontram abrigo e refúgio.
 
 O tempo suplica por momentos, remenda sonhos, no vão da memória. Trago nas mãos versos ecóicos sintonizados. Alargam as tempestades de meus olhos, finge cegueira. Desfazem em reticências nas páginas da minha dor. Inquietações decorrentes, feito às águas de um rio, contornando seu curso.
 
   Ainda que a pele sinta do toque arrepios, e as noites sabores do amanhã. Seguirei andante da minha própria sorte. Existe beleza no fim. Por que do fim, há o recomeço. Tenho tantas vidas, morro e revivo constantemente. Ciscarei as cinzas, sacudirei a fuligem, renascida de mim.
 
   Num raio de luz que me guia, nessa terra estrangeira, onde nem tudo conspira para o bem. Mas perfeitamente habilita-me. Á sombra da esperança descansa o corpo cansado, repouso tranqüilo de um novo alvorecer.
 
 Beberei da fonte da vida. Saboreando o gosto de liberdade, me faz transportar nas entrelinhas do verso. Rocha inabalável de meu viver.
 
 
15.03.2010